Seguidores

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

capítulo 11- Aquela mulher

Cleise 

 Clayton bate à porta do apartamento . Ele ficou estarrecido ao ver que foi aquela mulher quem abriu  a porta para recebê- lo. 

A primeira coisa que reparou foi no tamanho das unhas dela, compridas e afiadas como de uma tigresa, e pintadas de esmalte preto. 

A mão que ela estendeu na direção dele estava, ainda, parcialmente coberta por uma luva de couro sem dedos, com detalhes de metal envelhecido .

O gesto causou um tipo de dissonância cognitiva em Clayton, por ser ambivalente em essência , ao mesmo tempo um gesto amistoso e distante.

Então ele olhou para ela realmente, para além do cumprimento.

E ao retribuir o  cumprimento, olhou-a bem e reparou nos cabelos pretos e compridos, e no batom de cor grená que recobria seus lábios.👄.

Ela usava uma blusa de manga comprida , preta , com estampa floral preta, amarela e vermelha.

A calça também preta , de cós de cintura alta com botões brancos na região do quadril .

Nos pés exibia um par de  botas de meio cano com fecho lateral de couro sintético.

Parecia pronta para sair ou, talvez , tivesse acabado de chegar em casa.


Ele ficou curioso mas, aquela figura diante dele não deu a mínima abertura permitindo que ele  fizesse uma pergunta tão invasiva. Ele ficou sem saber se ela agora se vestia daquele jeito... ou se tinha realmente algo a esconder.

Não tiro a razão dele. Ela não sabia que ele iria visitá-la la e certamente não se vestiu assim para recebê- lo.

Eu mesma pouco sei dela , e a última vez que ouvi falar de Paula eu ainda estava grávida de Felipe.

Se  Carla e seu espírito analítico estivesse ali , com seu jeitinho todo detalhista e excessivamente crítico , teria imediatamente traçado um perfil.
 
O que reconheço , a propósito, ser um traço comum para a maioria dos psicólogos. 

A postura  de Carla, um tanto invasiva, porém, é potencializada por seu jeitinho virginiano de ser.

O  laudo com que Carla classificaria a mãe de Clayton possivelmente diria algo como ela era uma mulher narcisista , com síndrome de Peter Pan e um outros tantos diagnósticos possíveis !

A vida pessoal da minha psicóloga de plantão preferida, e que também atende como minha amiga e futura comadre , já que prometi que ela seria a madrinha de batismo de Felipe, está longe de ser organizada como uma planilha Excell, eu sei . Carla é muito bagunceira e adora protelar decisões!

Mas quando precisa criticar alguém  ou ainda  analisar uma situação, não há ninguém como ela, reconheço! 

Talvez apenas Clayton conseguisse se assemelhar à Carla , ao menos no quesito " ser detalhista" , o que era parte crucial da antiga obsessão por  organização dele...Ou era! 

Ele mudou muito e quase não o reconheço mais . Mas  como eu ia dizendo, se fosse Carla a escrutinar aquela pessoa diante de Clay,  diria que, sem sombra de dúvidas , ela e
 queria aparentar ser uma "Goth chic" de 30 a 40 anos, que frequenta a noite de festas Góticas contemporâneas.

Nada nela lembrava o que de fato era: uma mulher casada , bissexual , com um filho adulto, que recentemente virou avó e que já se encontra na casa dos 60 anos!

Paula, em seu eterno movimento para ser aceita, encontrou com o recente retorno do movimento gótico e o abraçou como se fosse  uma versão feminina de Jack se agarrando à tábua no naufrágio do  "Titanic "🎥 

Pouco importa se realmente  Rose poderia levar Jack para cima daquela tábua - e eu acredito firmemente que sim , era possível, assim como ele teria também se salvado se ela tivesse se esforçado um pouco mais para salvá- lo!.

Mas será que Rose teria sido quem foi, na sua vida , se Jack estivesse ao lado dela? 

Quem Rose seria ?

 A mulher de um homem, nada mais que um ladrãozinho mequetrefe e  que adentrou num navio chique,  e que por acaso era lindo e  excelente desenhista! E teria sido assim!

Talvez eles tivessem vendido o Coração do Oceano para conseguir pagar as contas...

 Afinal Rose nada mais era que uma mulher que se sujeitava ao patriarcado da sociedade daquela época .

Sinto , Jack , mas para Rose você realmente precisava morrer para que ela renascesse!

Ele também já não é o mesmo homem por quem me apaixonei.
Se eu fosse a Rose, ah! 
Com certeza ele também não teria subido naquela tábua, não mesmo !

 Nossa...acho que eu não estou nada bem ! Olha o que estou pensando! 🤔

Lembrete : Depois tenho que lembrar de editar isso antes de colocar o texto no blog...e cortar isso aqui ...e isso aqui também!
Sinto , Jack , mas para Rose você realmente precisava morrer para que ele renascesse)

A atual repaginada do movimento, pelo que descobri navegando em sites underground, foi que essa é uma vertente da cultura gótica original, que surgiu na década de 1970 no Reino Unido .

O termo Goth chic surge como integração à moda mainstream  no ano 2000 e que retorna em movimentos cíclicos , tal como agora.

Foi essa " diva" quem ofereceu a mão num cumprimento para Clayton, que limitou- se a retribuir o gesto contido num movimento nada íntimo.

Minha mãe , Margarida, havia me dado notícias de Paula, brevemente, no ano que se seguiu ao rompimento da amiga  com Cléo, enquanto Felipe crescia dentro da minha barriga e Clayton ficada cada vez mais isolado. 

O isolamento de Clayton , por sua vez, se intensificou em torno dos anos 2020, com a Pandemia, quando ele  foi obrigado a ficar um tempo em casa, recluso, sem poder expor os quadros no quiosque que meu padastro mantém no shopping e que meio que foi a forma que  ele encontrou para oferecer um emprego digno para Clayton, afinal , ele era o homem da nossa pequena família, que mal se iniciara. O provedor!

A reabertura  foi autorizada pela prefeitura do Rio como parte do plano de flexibilização das medidas de isolamento social impostas devido à pandemia de COVID-19 em 11 de junho de 2020.
Lembro bem porque foi na véspera do dia dos namorados daquele ano.

Os estabelecimentos reabriram com protocolos de segurança e restrições, como horários reduzidos e medidas de distanciamento social. 

Desinfectação nas áreas comuns, manutenção da abertura das portas automáticas para renovar o ar, tapetes higienizadores e reforço na limpeza do filtro do ar-condicionado são algumas das medidas preventivas adotadas pelos estabelecimentos.

A prefeitura anunciou, em 1º de junho, uma reabertura gradual da cidade e o retorno dos shoppings foi inserido na fase 2, mas o prefeito decidiu antecipar o retorno dos shoppings.

Nos dois primeiros anos pós - pandemia podemos dizer que vivemos a fase de adaptação àquilo que durante um tempo se chamou de Novo Normal.

E apesar de tudo que aconteceu com todos nós, de todo o choque e estresse pós traumático comum a quase todo mundo, nem todas as sequelas foram assim tão ruins quanto se imagina! 

 A adoção em massa do home office durante a pandemia transformou a forma como muitas empresas passaram a operar.

 O modelo de trabalho híbrido (parcialmente presencial, parcialmente remoto) tornou-se uma tendência consolidada, exigindo reconfigurações de espaços físicos e uma gestão baseada em confiança e transparência.

As restrições de circulação alteraram os hábitos de consumo, com um aumento das compras online e uma maior valorização de atividades ao ar livre e do direito à habitação (a casa como espaço multifuncional para trabalho, estudo e lazer)..

Os shoppings, de maneira geral , especialmente o shopping Boulevard, primeiro shopping da região, inaugurado em 1996 e que era conhecido como Shopping Iguatemi Rio na época, sofreu bastante com a perda de público circulante .

As principais razões incluíram mudanças de hábito comportamental impulsionadas pelo avanço do e-commerce e fatores econômicos como custos elevados de estacionamento e a diminuição do poder de compra. 

Meu padrasto também sofreu perda de poder econômico e mesmo querendo nos ajudar , eu realmente preciso muito mais de dinheiro, especialmente agora, com nosso filho e as despesas cada vez maiores .

Não que eu concorde totalmente com essa postura machista e um tanto retrógrada de que o homem quem paga as contas e a mulher que cuida da casa.

Muito embora fosse exatamente assim que , afinal , as coisas meio que aconteceram de fato , tanto na casa de meus pais quanto aqui mesmo,em casa...

E em parte acredito que esse fato - não ter renda suficiente para exercer seu papel de provedor , só piorou tudo entre eu e Clayton.
 
 5/8/2021, o  filósofo Luiz Felipe Pondé e a jornalista Thaís Oyama debateram essa pergunta: afinal ,o que querem os homens ?

Para Pondé, o homem heterossexual tornou-se uma espécie de "vilão moderno" diante do avanço das pautas feministas e da direção tomada pela produção acadêmica nos estudos de gênero. 

"Na academia, por exemplo, normalmente os homens héteros estão distantes da produção desse repertório. Essa discussão sobre homens e mulheres, ou o patriarcalismo e não sei o quê, normalmente quem produz essa discussão são pesquisadores e pesquisadoras que não são homens héteros, na sua maioria", argumentou.  

"Eu acho que, a rigor, o homem enquanto gênero, como se fala, nunca foi exatamente uma categoria de estudo. Acho que aí já começa uma diferenciação.

Então, eu não acredito que o homem-gênero tenha sido eleito como objeto de estudo tanto quanto as mulheres que, quando começaram pensar sobre si mesmas, já começaram a se pensar como apartados da humanidade como um todo, como se fossem não o homem que representa a humanidade toda. 

Então tem um monte de trabalhos sobre a mulheres, inclusive porque esse trabalho está envolvido com a ideia de emancipação feminina, mudança de papel e muitos deles, inclusive, reportando ao homem a culpa de tudo que existe na humanidade", completou Pondé., nesse site que li sobre o assunto, pois estou pensando em abordar essas mudanças num texto para o blog Trollados pela Vida!🤔 

Não sei o quanto ser criado por uma mulher mais velha , a Lizete, que mentiu para ele sobre quem era ela de fato e quem ele mesmo era , nisso tudo , não causou um estrago irrecuperável na confiança dele.

Ela não era mãe , era avó. Assim como Paula também não era a irmã mais velha, modelo de conduta e inspiração feminina para as mulheres com quem Clayton flertava , confidente secreta ...

Ela não era a irmã dele , era a mãe! alguém que sequer teve capacidade ou desejo  de assumir que ele era seu filho.

Essa , quase uma  garota, brigava o tempo todo com ele e vivia com um irmão temporão como alguém que disputava a atenção de um casal idoso que , apesar de ser" velhos" não só geraram uma criança, como foi um bebê do sexo masculino !

 Se foi capaz de ainda gerar um filho, não se é assim tão velho quanto dizem...E , pra culminar, Lizete "engravidou " de um filho, um  homem!

Para o meu sogro Paulo e seu jeitinho mineiro de ser, o nascimento de Clayton representava para todos , em especial para ele mesmo , Paulo,  um sinal inequívoco  de absoluta virilidade masculina!

Então a Paula, a filha primogênita de Paulo e Lizete,  foi flagrada no banheiro feminino do IERJ- instituto de educação da Universidade do estado do RJ, se esfregando  em Cléo , durante o intervalo das aulas do curso de formação de professores 

O iê-iê-iê dos anos 70  era demais para lidar com toda aquela  modernidade punjante , e o tempo, ah, o maldito tempo ! O tempo mesmo se encarregou de romper o elo e  separar o antigo "quarteto ternurinha".

As amigas que cantavam como  Wanderléia , origem do título de ternurinha e que inspirou o grupo, era composto por Gisela, mãe de Carla. Margarida, mãe de Cleise e Cléo e Paula- as mães de Clayton 

Mas o grupo de amigas  se desfez . Margarida engravidou do meu pai , embora que quando o conheci finalmente , a menina aqui já tinha 10 anos e o pai dela já era , na mente e por direito, o meu padrasto, Roberto.

Cleo e Paula viveram um casamento estável por 25 anos .Graças em boa parte ao apoio financeiro do pai de Cléo advogado, que montou o primeiro escritório para ela e apoiou as decisões dela, numa época em que a homossexualidade ainda era considerado doença . 

Mas não para assim o pai de Cléo . Ele aceitou as decisões da filha e nunca se importou com a escolha sexual dela 

Ao menos enquanto vivo , ele nunca deixou transparecer não apoiar a filha, que também se tornou advogada como ele e manteve o escritório de advocacia .

A mãe , Márcia , ao contrário do Dr.Martins  , se manteve afastada de Cléo mas, foi justamente o pai e não a mãe dela quem a  aceitou  sem grandes dificuldades, para surpresa de todos .

Foi assim que ele comprou para ela a casa no Recreio do Bandeirantes, no condomínio luxuoso.

E foi assim também que a vida financeira de Cléo e de Paula  ficou estabelecida e até com relativo luxo desde o início, até que a verdade veio finalmente à tona.

Quando Cleo descobriu a verdadeira identidade de Clayton e ele se revoltou com a suposta mãe , agora avó, ele saiu de casa mas não podia ficar na rua , e também estava zangado com Paula. 

Foi com a minha intervenção , imagine , eu também era ainda adolescente de 18 anos mal completos naquela época , que  assumi a mediação do conflito entre Paula , Clayton e Lizete.

Enfim , depois de umas discussões e algumas concessões, muito choro , é claro, Clayton acabou indo morar com Cléo e Paula.

Ele já conhecia a melhor amiga da irmã ...E gostava muito de Cléo e sabia da verdade - ou daquilo que julgava ser a verdade .

Mas não imaginava tudo aquilo.

Agora , ele mais uma vez olhava para aquela mulher ali e sentia que mais uma vez , não a reconhececia .

____&&&___

Nota da autora: muitas emoções depois de um longo tempo de separação, especialmente afetiva , entre Paula e Clayton.









quinta-feira, 6 de novembro de 2025

capítulo 10 - Primeiro banho

Sai do consultório com a certeza de que estava tudo bem. 
Pelo menos , fisicamente falando...né ...
Em se tratando da gente ,aí   ...


Olhei para Clay, que estava mais calado que o normal.Ele nunca foi muito de falar dos próprios sentimentos mas , de uns tempos para cá estava ainda mais difícil!

Para nossa sorte - ou azar , depende do ponto de vista - o trânsito estava tranquilo àquela hora do dia e chegamos rapidamente ao nosso apartamento.

Cleo parou para a gente descer com Felipe e com a enorme bolsa de bebê a - minha companhia mais constante não importa quão perto fosse o passeio , não tinha como sair de casa sem muda de roupa extra para ele além de algumas fraldas extras, trocador e uma infinidade de apetrechos .

Fiquei observando - a estacionar enquanto com uma mão segurava  Felipe, enquanto rezava para a bolsa não escorregar do ombro e descer pelo braço .

Estava pesada e eu equilibrava o conjunto.
Pensei em pedir socorro pro Clay mas , não consegui.
Estava com raiva ..estava triste.
Com fome...e com sono....estava tão cansada. . suspirei ! Eu não conseguia definir o que sentia e eu transbordava de sentimentos feito a bolsa de Felipe ...

 Fechar o zíper da bolsa , antes
 de sair de casa, se mostrou  uma verdadeira façanha! 
Descobri  que levaria alguns minutos no processo! 

Eu  tive que retirar tudo de dentro para rearrumar de forma até caber tudo lá dentro, de uma forma ou de outra! 

Só de imaginar que seria assim agora e eu teria que arrumar a bolsa para cada vez que fosse sair de casa, já me deixava cansada...

Aliás , essa era a palavra- chave , que resumia como eu me sentia nos últimos dias....
Eu me sentia cansada ....

Era um cansaço inexplicável , para além das mamadas noturnas. 

E apesar do sono interrompido , até que eu dormia relativamente bem .

Além disso , Cléo cuidava bem de nós ...mas sei que a qualquer momento ela vai retornar para o apartamento dela , no Recreio dos Bandeirantes!

E se eu estou achando que o Clay não está assumindo o papel de pai, a verdade que eu tampouco estou cuidando das coisas realmente.

Não tenho feito nada , a não ser cuidar de Felipe .. mal tenho olhado para a construção do blog Trollados pela vida .. quem dirá pra mim...

Vou até o banheiro.
Eu olho para mim , no espelho de corpo inteiro , e não me reconheço.

Quem é essa ,  por trás dessas olheiras? Dessa aparência... completamente destruída ?!

Nem respirar fundo eu consigo , com essa cinta apertada... 

—Chega, disso ! 

Tiro a cinta, respiro fundo ao me olhar no espelho .

Minha barriga, na mesma hora, cai como um avental horroroso sobre a perseguida! 

Sequer consigo perceber a calcinha de gestante escondida por baixo daquela pelancada  toda!

 Suspiro fundo e digo para mim mesma :
 —É o que tem pra hoje !

Deixei a cinta sobre a cadeira de balanço e decidi :
—É a hora do primeiro banho de imersão de Felipe !

Coloco novamente a camisola , sem cinta mesmo... Vou precisar conseguir  me dobrar se quiser dar banho nele !


Agora que caiu o umbigo , o banho do Felipe foi liberado.

Levei o maior susto quando fui trocar a fralda. Já tinha virado rotina levantar o coto gentilmente e passar um algodão com álcool 70% para a higiene . 

Não doía nada , a enfermeira me garantiu ainda na maternidade , mas eu não gostava do processo, era tão  ...estranho !

Então , fui colocar uma fralda limpa de forma preventiva, sugestão que estava no site e que passei a adotar sempre que saia de casa...

 E o coto umbilical, já seco , se separou de repente e ficou preso na fralda . 

Dei um grito, ao perceber :
—Cleo !
Ela veio na mesma hora . 
— Ah! Secou ! - ela me tranquilozou :
— Então , agora, não precisa mais tomar cuidado ! Pode até dar banho nele , agora!– Disse, mostrando a banheira de pé , encostada na parede atrás da porta do banheiro.


A banheira havia sido um presente do meu padrasto.
Era uma banheira  Galzerano modelo luxo classic , desmontável e dobrável e com estampas de pandas no trocador acolchoado. 
Quando se levanta o trocador, colocamos água dentro...
Simples e eficiente!
Gosto dessa banheira com seus ursinhos preto e branco ... geralmente eu usava o trocador para trocar Felipe , mas hoje seria um momento especial!

Como era o primeiro banho dele fui até a cozinha e coloquei uma panela de água filtrada para aquecer .
Verifiquei a temperatura da água e vi que estava morninha ...
Ainda assim, coloquei a água na banheira...e achei melhor não colocar muita água né .. 
—O que está fazendo ?

Cleo chegou da rua, pois havia decido levar Akira para passear.
Mal tinha chegado em casa o cachorro trouxe para ela a coleira na boca , pedindo para passear , pois  tinha ficado o dia inteiro preso no apartamento.

 Como era um cão grande e com muita energia, ele precisava sair de casa pelo menos duas vezes ao dia , já que estava acostumado a andar pelas dependências do condomínio da casa dela , no Recreio . 

Cleo chegou da rua na companhia de Akira e Carla e me pegou em plenos preparativos , minutos antes de começar a preparar Felipe para o banho .
Clayton não estava com elas .
________
Cleise está as voltas com o primeiro banho de Felipe.
Gostou do capítulo?
Deixe seus comentários!






terça-feira, 21 de outubro de 2025

Capítulo 3-Tudo bem quando termina bem!

__ Oi, OI, OI! Não é muito cedo para um striptease não? Ainda não são oito da manhã!- Ela disse entrando de supetão pela porta entreaberta do quarto.
__ E tem horário certo para um striptease, Carla? - retruquei,  fechando a abertura especial do sutiã de amamentação.

Tanto trabalho procurando soutiens, decidindo entre soutien com e sem  bojo ou que tivesse  aquela abertura frontal..
Entrei até em site de pergunta e resposta na web, para perguntar a respeito do que comprar e me responderam que "os melhores têm abertura frontal, por meio de um ganchinho ou peça de encaixe, e são bem fáceis de abrir e fechar com uma mão só, já que com a outra você estará segurando o seu bebê. Essa abertura é no próprio bojo, mas permite que o mamilo fique para fora e o resto do seio continue sendo sustentado pela parte de baixo do soutien." 

Aí, decidi por fim por dois soutiens de amamentação, e só  encontrei na indefectível cor caramelo. 
É meio como se a mãe deixasse de ser mulher e não pudesse ousar nas cores, só restando para ela usar sempre a cor caramelo. Argh!
 Enfim..Agora estou aqui, depois de tanto preparo e ...Eu não consigo fazer o Felipe pegar o seio. Simples assim. Não tenho leite!
Na maternidade foi um suplício, mas a enfermeira havia dito que talvez em casa, num ambiente conhecido, o leite pudesse descer com mais tranquilidade e sentindo o cheiro, o bebê pegaria o seio. 
Eu até achei graça ao ouví-la  a se referir a meu filho como se de repente  se transformasse num cão perdigueiro, e meu peito, em um fast foood...

 Sorri com tristeza, pegando a mamadeira que  havia deixado preparada com a fórmula  receitada pelo pediatra para lactantes, caso mais uma vez Felipe se recusasse a mamar.
 Ela apertou os olhos enquanto observava  a gula com que Felipe passou a tomar o leite na mamadeira e fez a pergunta certa- aquela que eu preferia não responder:
__ Você não comentou que Felipe estava tomando mamadeira...Aliás, havia dito que não estava com problemas com a amamentação...
__ É presente para Felipe?__,  Mostrei o embrulho nas mãos dela e ela me entregou um dos  embrulhos coloridos que trazia. 
__ Sim... e não. 
Abri o presente e entendi o recado. Era uma bombinha de sucção manual. 
__ Agora vou virar uma vaca, sendo ordenhada?
__ Progredimos, viu só? Há pouco mais de uma ano a gente estava sendo chamada de tia numa lanchonete às onze da noite , e agora...
__ Agora eu virei uma vaca leiteira! 
__ Eu ia dizer que agora você está casada, com um filho lindo nos braços e eu, por minha vez, sou agora uma psicóloga formada  e  voltei para assumir meu posto de madrinha dessa fofura! Posso?

Com exceção de Cleo, que na condição de "avó" segura o Felipe desde que chegamos do Hospital, Carla é a primeira pessoa que se dispõe a segurar meu filhote.
__  Claro que pode, Carla. Já vai se acostumando com ele, afinal terá que segurá-lo ao ser batizado, não é?
__ E o meu futuro compadre, onde está?
__ Está no quarto dele...no ateliê, quer dizer...-Apressei-me a consertar o que deixei escapar sem perceber. __Eu não havia pensado nisso, Carla, onde você vai ficar agora? O seu quarto está lotado de telas e tintas, você não vai aguentar aquele cheiro não! Se ao menos tivesse me dito que vinha dias antes do batizado...
__ Sei... E tem alguma dúvida que eu ficarei por aqui?- Disse passando a mão sobre o lençol-, Essa cama de casal sempre foi meu desejo de consumo mesmo, afinal o colchão dela é bem mais macio que a cama que ficava no meu quarto.
__ Obrigada- respondi ao perceber que ela não ia me perguntar diretamente aquilo que já estava ficando óbvio para todos.
 Eu e Clay não estamos nada bem.
 Carla apertou os olhos novamente, como era do seu feitio fazer quando queria examinar alguma situação e em seguida sorriu:
__ Não por isso. Será um prazer  ajudar com as mamadas noturnas. Depois, minha missão é sair daqui com esse fofucho mamando com gosto da forma mais natural possível ! Sem essa de mamadeira!
__ Quem te falou sobre isso? Foi Cleo?
__ Não. Dessa vez foi sua mãe, a dinda Margarida, quem me falou da dificuldade. Ela percebeu que a situação quando te acompanhou na maternidade e me contou quando liguei para ela porque achei que ela estivesse aqui, ajudando vocês nesses primeiros tempos...
__ Pois é... Mas não está. 
__ Nem ela, nem o Clayton, pelo visto.

Dei de ombros.

__ Por falar nele, Cleise, eu gostei de ver o trabalho que você fez ao reativar o Blog. Vi que até teve muitos comentários na postagem do Clay sobre o Barão negro. Não conhecia aquela história.

Carla é  assim, "Morde e assopra".É o jeito dela, já estou acostumada,mas não dei o braço a torcer.

__ Nem eu, acredita? E Olha que o Palácio Amarelo fica aqui mesmo no Rio ,na cidade de Petrópolis, achei a matéria em si bem interessante.
__ Mas...
__ Mas eu não sei se tem algo a mais em ver o Clay fazer uma matéria sobre um herói mineiro. A família de Clay é mineira, entende o que quero dizer?
__ Achou que foi uma forma dele procurar pelo conhecido para se sentir seguro?
__ Não sei, Carla, a psicóloga aqui é você!
Ela me devolveu meu pacotinho para meus braços.
__ Acho que ele precisa trocar a fralda, mamãe! Vamos combinar assim: você me ensina a trocar fralda que eu te ajudo a usar essa bombinha de ordenhar vaca!

Eu  devolvi Felipe para o berço.

__ Pegue o trocador portátil para mim dentro da bolsa dele.
__ Trocador portátil? 
Sorri. Um mês atrás eu mesma nem imaginava que isso existisse...
__  É isso aqui. Eu sempre deixo na bolsa para ficar mais fácil , embora eu só tenha saído nesse primeiro mês para ele tomar a vacina BCG...
__BCG? Já está usando o dialeto materno?
__ Não é um dialeto- ri antes de comentar- é o nome da vacina contra a tuberculose...Bom aprender, vai que qualquer dia.é a sua vez de entrar nos domínios maternos...Até onde eu sei você bem tem se esforçado....
Ela desconversou e não deu o braço a torcer.
__ Ah!.... Então já entendi o motivo dessa tristeza!É falta de sol! Carioca não combina com falta de sol. Vamos sair e depois....disse, enfatizando a palavra depois -, quando voltarmos do passeio aí teremos tempo para conversar.
__ Eu ainda não posso sair com Felipe, ele ainda não tomou todas as vacinas e...
__ Não! Não pode  desgrudar dele nem um minutinho? Está querendo virar a mãe do ano por acaso? Vamos aqui em frente tomar um suco de laranja, já que você não pode beber e daqui a meia hora no máximo, estremos de volta. Esse bezerrinho vai conseguir ficar longe de você por meia hora,, Cleise, relaxa! A Cleo fica com ele.
__ Mas...
__ Sem mais, Cleise!-, Cleo entrou no quarto e falou: 
__ Tanto estresse pode estar prejudicando tudo, até a descida do leite..
__ Eu não acho que isso possa ajudar e depois ele é muito novinho, como vou voltar da rua para pegar ele...
__ Você não pirou assim quando eu o peguei no colo, Cleise, não está sendo coerente, sabia?
__ Pode ser, mas na hora eu nem pensei que você estava chegando da rua e agora...Não deveria ter deixado pegá-lo no colo, assim como não deverei sair de casa só para trazer germes para ele.

Carla suspirou. No fundo eu sabia que tudo era um exagero, uma piração mesmo, mas eu não conseguia evitar.
__ Cleise, eu mesma já levei o Felipe na rua, esqueceu?
__ Meia hora? perguntei, vencida.
__ Meia hora! E na volta você toma um banho antes de pegá-lo no colo.
__ Certo.
__ E o Clay?
__ Estamos conversando há um tempo já , se ele ainda não se deu conta da minha presença, não é agora que vai se importar.
__ Concordo.
__  Clay não é sua responsabilidade. Sua responsabilidade é Felipe. Depois creio que eu possa ajudar com isso...
__ Talvez. 
__ Toma Cleo, para vestir no Felipe depois do banho- entregou o outro pacotinho que trazia. Cleo perguntou se poderia abrir e eu assenti com a cabeça:
__ Um body azul escrito Boy? 
__ Pois é...A vendedora , mal eu entrara na loja, já foi perguntando se o presente era para menino ou para menina. Eu bem que tentei trazer uma cor neutra, tipo verde ou amarelo,achei que você iria preferir assim. Mas olha, pensando bem... Cor não tem sexo, não é? Então menino também pode vestir azul...É só uma cor, como qualquer outra... Se meninos podem vestir rosa e está tudo bem, então também podem vestir azul e está tudo bem também. Por isso eu aceitei a opinião da vendedora. Bater o pé para agir diferente, na verdade, seria concordar que cor  tem sexo e que algumas cores seriam proibidas! O que estava longe da verdade...Então...Eu até falei das cores para ela- e ela surpresa, disse que nunca ouvira falar sobre isso, mas aceitei trazer o Body que ela sugeriu porque gostei dele, e não pela cor em si.
__ Só você, Carla...mas, faz sentido sim!- Concordei.

__ Pois é isso mesmo, Dinda*! Cleo falou sorrindo-, vou lavar a peça e secar na secadora de roupas, antes de dar um banho bem gostoso no pequeno enquanto a mamãe relaxa por meia hora-, disse piscando o olho- ou até um pouquinho mais. A mamãe merece!
__ Vamos Cleise, vamos tirar esse mofo de você! Só daqui a três horas esse bezerrinho vai acordar mesmo! Temos tempo!  E vamos comprar uns sutiãs que não sejam cor de burro quando foge. Estamos do lado do Shopping Iguatemi, tem que ter algo decente para uma mamãe desse século por lá!.-Carla me falou às gargalhadas enquanto me empurrava em direção à porta.

   Não pude evitar de espichar o olho em direção ao ateliê enquanto deixava o apartamento, mas a maçaneta da porta do antigo quarto da Carla, hoje ocupado por Clay, nem se mexeu. Suspirei. 
   Eu realmente precisava de um tempo e ao menos agora com a Carla de volta, tudo voltará a ficar bem.
  Vai sim...
  "Tudo  bem quando termina bem"- repeti para mim mesma-, e a minha história ainda terá um final feliz!

                                                                Cleise

* Dinda- Forma carinhosa de se referir à madrinha de batismo, na religião Católica.

Nota da autora: 
Cleise está as voltas com os primeiros desafios da amamentação. Clay, por sua vez, está com ciúmes do filho e isso está refletindo na vida do casal. 
Mas com a chegada de Carla, a poucos dias do batizado de Felipe, tudo promete mudar...e mudar para melhor.
Gostaram do capitulo? Deixe sua opinião e comentário! Sua participação é sempre bem vinda!



















capítulo 9 - nada mais que uma boa conversa


Cleo se preparou pra me levar ao médico, na consulta de retorno após a cirurgia .
E a discussão já começou ainda antes de entrar no carro  
-- Cleise , Felipe tem que ir na cadeirinha para bebês. - Cléo alertou 
-- Não mesmo! Eu não confio em deixar o meu bebê sozinho na cadeirinha !
-- Mas ele não irá sozinho, você seguirá atrás , ao lado dele!
-- Não , ele vai no meu colo !
-- Cleise, tem que ser assim, imagina a multa que vai rolar se a gente for pego , com o Felipe fora da cadeirinha ? Está sendo irracional.
Olhei para Clay , furiosa . 
O momento idílico de romance que vivemos instantes evaporaram num passe de mágica , diante do comentário ácido.
-- Ele vai no meu colo ou não irei!
Não dei o braço a torcer.
Cleo suspirou fundo e se sentou ao volante. 
Ligou o som do carro numa música qualquer, para aliviar o ambiente tenso que se instalou .
Sentei atrás com Felipe ao meu colo, e trespassei o cinto de segurança abdominal.
Cleo ia manobrar o carro para sair da vaga quando eu falei :
- Tia Cléo...Me desculpe. Tem razão .
Clay abriu a porta e saiu do carro e eu sai atrás dele, com Felipe.
Acomodei o bebê na cadeirinha e sentei - me ao lado dele.
Clay deu a volta e entrou  pela outra porta do carro, ficando ao meu lado.
E seguimos para a consulta .
Lá chegando Cleo segurou o bebê enquanto eu entrei com Clayton.
Estava um pouco constrangida porque eu não costumava ir ao ginecologista com o marido do lado.
Mas reparei que ali no consultório da minha médica eu não era a única que estava acompanhada ali 

-- Bom, agora irei receitar um anticontraceoceptivo próprio durante a fase da amamentação
-- Pensei que a amamentação previnisse uma gravidez ! 
-- Bem , geralmente a amamentação tem sim , essa função extra, mas você não quer correr riscos !
Pensei que seria realmente impossível já que ainda não rolou nada então , meio sem jeito, Clay perguntou:

-- Então já pode , assim , tudo normal ?!
A médica sorriu e confirmou:
-- Tudo absolutamente bem, vida normal , agora.

 Mas no início ,Cleise , talvez se sinta estranha , uma insensibilidade na região do corte, é normal.
Se precisarem use e abuse da criatividade ...
Clay ficou vermelho mas prestou atenção no conselho:
-- E  um lubrificante íntimo a base de água , para não prejudicar nem o látex do preservativo, nem com hormônios para não prejudicar o bebê.

Com a certeza de que poderíamos retomar nossa vida sexual, saímos do consultório com inúmeras perguntas que ninguém teve coragem de fazer!

Agora vinha a parte menos simples da coisa : ter tempo e energia para isso !🤪 




quarta-feira, 1 de outubro de 2025

capítulo 8 - surpresa


Clayton entra no quarto e a encontra Cleise colocando a faixa abdominal pós-cirurgia.
Ela está absorta, fechando os últimos colchetes . 

A tarefa parece complicada e ela geme enquanto se dobra.

 - O que está fazendo?

-  Tentando fechar essa merda! Mas eu não consigo ainda me dobrar ... Diz, bufando.

Clayton ficou olhando pra ela, desconsertado . 

Então , com estudada calma , pergunta:

- Quer que eu chame a Cléo?

Olho para ele  e penso em  como responder, mas balançando a cabeça, digo:
- Sim, por favor !

Ele ia sair do quarto quando desiste no meio do caminho e volta no mesmo pé.
- Ela deve tá ocupada.
Se você me disser o que eu tenho que fazer, eu acho que consigo te ajudar

Sorri.
- Eu vou respirar fundo e aí você fecha esse colchete e fecha o zíper em seguida, tá !

 Terminei de colocar a cinta.
Vesti por fim, o sutiã de amamentação, sobre ele a camisola com abertura frontal 

E me sentei , desconfortável, na cadeira de balanço .

 Felipe , ainda bem, continuava adormecido .

- você esqueceu de colocar o protetor de seio ! - Clayton entregou a caixa pra ela .

 Fiz um gesto com a mão e disse:
- Eu não preciso disso ! 
- como assim, não precisa ?
" Como assim você ainda não sabe ?" - teve vontade de responder. 

Mas estava cansada até pra discutir.

- Ele não pegou o seio, Clayton. Felipe tem tomado só mamadeira ... Ele não quis ...

Ele apontou pras inúmeras revistas sobre a mesa ao lado do computador .

--Não tinha nada sobre isso nelas? 

--  ah! Sim, tem. Tudo explicando como - pego uma revista qualquer e não demoro a encontrar o texto que é quase o mesmo em todas elas :
"o leite materno é fundamental até os dois anos e que era só insistir que o bebê ia pegar , naturalmente ..."

Como se amamentar fosse um roteiro mais que previsível, só que não é, né ?! Olha a realidade, aí , pra provar ...Eu já tentei e tentei...e,  nada!

Ele se aproximou da cadeira de balanço e sentou na beirada da cama, ficando em frente a ela.

- você não pode desistir, Cleise .

-- Desistir do quê, exatamente, Clayton? - Perguntei, frustrada.

Clayton ficou em silêncio , mas não disse nada.

Desistir...a palavra ficou ecoando em minha mente e me surpreendi com meu próprio desabafo, que murmurei sem perceber:

- Não sei mais o que fazer, clay!

- Posso ? 

-- Pode o quê? - perguntei, confusa.

-- Posso tocar em você ?

Dei de ombros .

Ele me  tocou com gentileza, colocando mão  sobre o meu seio . Nem me lembro a quanto tempo ele sequer me tocou assim pela última vez.

Em outros tempos , reparo, meu peito cabia quase integralmente dentro da mão enorme com dedos compridos de artista dele. Mas agora...não ! 

- Estão quentes , Cleise ! - Ele comentou.

- Você está retirando o leite ? Se não tirar, pode empedrar...A Carla disse que te trouxe uma bombinha de presente...

- Qual a parte que eu disse que estou sem leite , que você não entendeu?! - Falei , sem paciência.

- O que mais a Carla falou pra você?

Ele  tocou com um pouco mais de pressão. 

A sensação era estranha, como se, ao serem tocados por ele, subitamente meus seios tivesse de  enchido de vida!

- Não é verdade, Cleise, olha !

E mostrou para a minha camisola. O tecido estava úmido, formando uma grande mancha na altura dos seios .

- Eu não acredito!!!  Clayton! Desceu ! 

Eu o abracei, num impulso  e ele reclamou :

- Eca! Cleise, você tá com cheiro de leite ! 

Eu me afastei sorrindo, dele, e ele sorriu de volta . 

- Eu não te via sorrindo assim fazia nem sei quanto tempo...

Brincou com a ponta dos meus cabelos ruivos. 

Quando foi a última vez que os cortei mesmo?
 De repente eu pensei, será que ele me deseja, ainda , mesmo gorda, flácida e com meu cabelo cheio de pontas ?

- Desculpa, tá ?!

- Pelo quê?! - sua fala me tirou do devaneio e olhei pra ele, confusa 

Mas ele não respondeu e me abraçou , e em seguida, ele me tomou por entre as suas mãos e me beijou .

Cleo abriu a porta pra dizer que era pra de Felipe mamar , mas  não quis interromper a cena. Eu fingi que não percebi .

Felipe , aninhado nos meus braços, estava finalmente mamando , pela primeira vez .
 
Ainda bastante desajeitados,  tentávamos posicionar o bebê da melhor forma, mas logo ele abocanhou o seio e mamava , apertando com a mãozinha enquanto sugava com força .

 Estávamos juntos , tentando. 

Eu estava realmente feliz e sorria tendo o Clayton ao meu lado.

Cleo fechou a porta e saiu sem interromper a felicidade daquele momento.

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Capítulo 7-Amor em cores


Cleo

Entrei no antigo quarto de Carla e que agora Clayton transformara em Ateliê.
O quarto estava vazio  desde que ela se decidira por transferir a faculdade para a Bahia e assim ficar mais próximo dos pais dela, Gisela e Carlos.
Não convivi muito com Carlos, quando ele Gisela e a Carla ainda moravam aqui, no Rio. O pouco que me recordo dele foi a partir do que Gisela contou. 

Voltei a me concentrar nas telas assinadas por Clay. .
 Havia ainda algumas canecas na estante. Sobras do tempo que ele fazia canecas artísticas para vender para a obra assistencial da igreja de Lizete. 
Mas são as telas mesmo que revelam como ele tem talento mesmo  para isso....

Aproximei-me um pouco mais. Carla comentou sobre a tela ainda por finalizar, que está no cavalete... Era possível perceber, assim de perto, a direção da pincelada, as camadas sobrepostas.
Ainda que nenhuma daquelas telas tivesse recebido o nome Cleise, não era difícil perceber que era ela a principal fonte de inspiração . Em algumas delas, também se podia ver Felipe, sempre retratado ao lado da mãe.
Cores fortes, vibrantes.

A tela inacabada  trazia o olhar de Cleise em evidência.
Nada se assemelhava  aquele rosto cheio de olheiras, resultado das noites insones, e que se transformara numa pálida versão da mulher diante de mim.
 A Cleise real sequer imaginava que seu rosto emoldurava cada canto daquele ateliê, adormecida no quarto ao lado, num raro momento de paz.

一 Será que você percebe que não revelar seus sentimentos é aquilo que mais o afasta dele?- perguntei para mulher do cavalete, olhando fixamente para mim-, Ele, ao menos, libera seus sentimentos através da pintura.

 E ela por sua vez, libera a tensão percorrendo seus ágeis dedos pelo teclado, nas raras vezes que se permite ficar afastada de Felipe para cuidar de si mesma. Mas é você quem ele quer.  

Porque não conversam um com outro? Não seria bem mais simples?- questionei-a.-Tantos casamentos recorrem aos filhos como tábua de salvação, e quando percebem que filho não resolve crise conjugal- e , na maioria das vezes, só intensifica os problemas.

Era como se a simples presença deles tiver o poder de uma grande lente de aumento sobre os problemas nunca discutidos pelo casal. E aí...e aí terminam na porta do meu consultório. 

Sentei na poltrona em frente à enorme tela com o rosto de Cleise, de perfil. 

Azul, rosa e um tom de amarelo se sobressaía na tela...Linda. Será que  ao menos o retrato dela seria capaz de me ouvir e entender o que digo?

Balancei a cabeça em negativa.

Lembrei-me de Margarida com a idade de Cleisemir, pouco antes de engravidar. 

Eu  era muito nova ainda, não percebi como Margarida deve ter se sentido perdida... Eu estava às voltas com início de faculdade.. Paula naturalmente se aproximou mais de Margarida, na época eu não entendi o motivo,  mas hoje entendo a conexão que a maternidade não desejada trouxe para elas.
Margarida não queria ser mãe e assumiu o filho e Paula...era ainda uma adolescente quando sua mãe a convenceu em ter o filho em Minas, para onde a família se mudou até o nascimento de Clayton

E Paula passou a conviver com um irmão temporão , mimado por pais com idades de avós .

Hoje consigo entender que Paula não teve escolha . Ela não aprendeu a ser mãe ...

Além disso, Paula e eu vivíamos tendo que nos encontrar às escondidas como duas adolescentes...

Paula havia retornado a pouco tempo com seu irmão caçula temporão a tiracolo...Irmão...quantas mentiras!

Foi difícil engolir que Paula tivesse engravidado, depois de tudo que a gente vivia juntas desde o curso Normal no Instituto de Educação. 

Lizete assumiu o próprio neto como filho até que a verdade veio à tona...Paula me pediu perdão...

Pelo menos isso, daquela vez...Eu perdoei. 

Aceitei o filho dela para criarmos juntos e eu o amo como se fosse meu filho. Eu a perdoei e olha só no que deu...Mas eu realmente amo Clayton como se fosse meu filho !

❤❤❤
Respirei fundo, especialmente quando meu olhar se deparou com uma garrafa de rum pela metade na estante do quarto. Clay andava bebendo...Eu o via indo pelo mesmo caminho de Paula...

Fui até a cozinha buscar um copo.Voltei, me servi da bebida e voltei a me sentar diante da tela. Meu pensamento voltou  a vagar. 

As pinturas dele parecem ter esse poder, e novamente me vejo imersa em pensamentos.

Por ser mulher geralmente são elas, as mulheres, que mais me procuram para contratar meus serviços advocatícios, motivadas pela identificação sexual. 

Normal. Mulher prefere ser atendida por uma profissional do mesmo sexo.

Acham que advogados do sexo masculino vão se aproveitar das fragilidade delas para as assediar.

 Quando me veem assim, de Tailleur completo e salto alto, como manda o figurino apropriado ao Fórum, então elas supõe que eu seja... Feminina, e isso as deixam à vontade comigo.

 "Bem, eu sou mulher! " bebi um pouco do uísque- e sou feminina sim.. 

Sorri, balançando o copo e fazendo o gelo no interior da bebida girar em cículos.

 Gosto tanto de ser mulher que são elas, as mulheres, minha fantasia e fonte de inspiração!

Eu tenho isso muito definido em minha mente, mas nem sempre as coisas são assim tão claras.

 Clayton passou por um período de experimentação antes de se decidir pela Cleise e Paula...Ah! Paula... 

Paula ficou muito tempo ao meu lado antes de se definir pela bissexualidade. 

Se até para ela há confusão, quem dirá para quem não está habituado a discutir esse assunto, como os avós de Felipe,tanto Lizete e Paulo quanto... 

Lizete e Paulo não, não seriam eles os avós de Felipe...

Paula e eu? 

Estranho pensar assim. 

Mas, sim!- concluo-  somos eu e ela, realmente,  avós dessa criança, ao lado de Margarida e Roberto!

Tanta confusão e preconceito. Casar-se com um homem apenas para ser aceita socialmente.

Não consigo acreditar que Lizete e Paulo preferem que a filha seja infeliz ao lado de um homem, do que feliz ao meu lado,por eu ser  uma mulher.

Não acredito que Paula tenha se tornado assim agora, apenas na maturidade.

 Sexualidade é algo que já nasce conosco, não é algo decidido com a mente e que se possa mudar de repente.

Não sei a quem ela pensa que engana...Até que está durando esse casamento, já passou uma ano, vejamos quanto tempo mais...

  Será que mudar mesmo a ateliê para meu apartamento será uma boa ideia ou será mais um motivo para afastar Cleise e Clay?

 O que é melhor fazer?

Peguei a garrafa e o copo para levá-los para a cozinha.

Vamos ver o que ele fará quando perceber que a garrafa já não está aqui..





Nota da autora: Para quem está começando a acompanhar a história daqui, Cleo é a mãe por afinidade de Clayton. Cleo foi casada por muitos anos com Paula, a mãe biológica de Clayton, cuja paternidade é desconhecida.

Clayton sempre viu Cleo como sua mãe real, já que ele a a mãe biológica foram criados como irmãos.Agora é ele quem se vê ás voltas com a paternidade e nem ele, nem Cleisemir, lidam bem com essa nova realidade.

Capítulo 6 - Retratos

Carla   

 Após examinar as telas em sequência eu tive uma súbita compreensão - ou insight como se dizia na faculdade -, daquelas obras de arte  diante de mim.
    Cleise e mesmo Felipe estavam ali , retratados em cenas furtivas onde não sabiam que eram alvo do olhar artistico de Clay.
     Ainda que eu adivinhasse a resposta , precisava  confirmar minha análise :
    一 A Cleise sabe que foi retratada nas diversas fases da gravidez ?
    一  É claro que não,  ora ! Era para ser uma surpresa e ...

      Eu não disse nada,  mas mesmo assim ele bufou ao ver  meu olhar de descrença :
 一   Certo , Carla ! Não foi só  por isso !É que eu não sabia se ia ficar bom mesmo! Era meu primeiro retrato e nunca estudei pintura pra valer...você sabe disso...

A primeira pintura foi uma inspiração que surgiu do nada,  sabe? A gente tinha discutido e aí... aconteceu .

    Ele parou de falar e fechou a cara. 

De repente, começou a esbravejar:

    - Não me olha assim não! Você me perguntou sobre os retratos, não foi ? 

E  estou falando sobre eles. Porque esta com essa cara de quem não acredita numa só palavra que eu disse? 

   - Eu, Hein! Mas eu nem te interrompi ,Clay!  Sem essa !
   - Sem essa você!- ele devolveu no mesmo tom- Desde que se formou em psicologia ficou toda cheia de si achando que sabe tudo de tudo que acontece com a gente.
 Se não quer saber do que tenho pra falar e vai ficar duvidando das minhas explicações , vou ficar quieto e voltar pra minha tela ! 
   - Clay,.por Deus !- falei abrindo os braços em direção aos céus, pedindo coragem. "Força não , Deus, senão eu bato nele!"

-- Você está muito chato viu ? 

Não é à toa que está tão difícil de você se entender com a Cleise. Está totalmente na defensiva Clay e...
   - Eu não estou na defensiva porra nenhuma , Carla ! - ele vociferou , antes de jogar o pincel dentro do pote com água.

 
    A água respingou sobre a tela e sobre o avental dele

     - Para de me analisar, merda! Não sou seu paciente! 

  Eu fiquei quieta , não só para ele se acalmar como  para conseguir ler a cena  diante dos meus olhos...

    O avental dele, que sempre fora de um branco imaculado, agora estava todo respingado de tinta .

    Esse não era o Clay que conheci, maníaco por limpeza e organização e que me deixava louca porque sempre que eu procurava algo nunca estava onde eu deixara, depois de passar pela inspeção Clay. 

     Ao invés disso, agora ele pegava tudo e resolvia arrumar  pra depois eu não conseguir achar mais nada dentro do apartamento!  

    Quantas brigas tivemos motivadas pelo senso de organização de Clay em ação?

    Meu amigo só poderia ter sido abduzido por alienígenas que deixaram esse cara insuportável no lugar!

      Levei os dedos indicadores e polegares  até as têmporas e massageei-as para me acalmar . 

      O problema estava ali e se não era tão  fácil  de perceber...Entender era até bem simples!

    Ele não estava lidando nada bem com a chegada de Felipe e Cleise que por sua vez , estava estafada.

    E imersos no problema até a raiz dos cabelos , não conseguiam enxergar o que para mim parecia ser tão óbvio. 

    Eu sai do quarto para respirar  e não disse nada. 

     Dirigi-me à cozinha.

     Atarefada , tia Cleo se movimentava de cá pra lá e nem reparou na minha presença. 

     E a música que estava sempre tocando no rádio  ou saía do violão afinado de Clay , embalando nossas brincadeiras até tarde da madrugada...Adorava cozinhar ouvindo música... 

    Onde foi  parar tudo ?

    A casa  estava triste e o resultado estava ali , bem diante de nossos olhos. Sentei na cadeira da cozinha .  

      Aquele que chegou a ser o meu lugar preferido do apartamento também  estava diferente .
       Projetada originalmente no estilo americano,,a cozinha de outros tempos  era uma extensão da sala.

     Um balcão de madeira  servia tanto como divisor de ambientes e aparador dos pratos na hora da refeição como era perfeito  para receber o preparo de alguma refeição ligeira.


    Eu conheci bem aquela cozinha em outros tempos .


    Durante um ano  preparei os pratos que acompanhava nossos momentos de brincadeira, nossas conversas ...A gente brigava?  Com certeza ! Mas nunca experimentamos esse nível de tensão. 

     E o que é mais estranho é que tudo isso está justamente acontecendo agora-naquele que deveria ser o momento mais feliz na vida de todos .

     Eu precisava agir mas não não sabia o que fazer. ..Não ensinam  isso na faculdade! 

    - Oi , minha querida ! Está aí há muito tempo ? Não vi você chegar...

    - Oi, tia Cleo!  

A coisa está meio tensa lá dentro né?  Deixei aqueles dois e vim aqui para respirar um pouco....Não sabia que estava tão difícil assim!  Se continuar desse jeito nem sei o que vai acontecer...

    Cleo enxugou as mãos no pano de copa pendurado num puxador fixado no azulejo  sobre o fogão e veio até onde eu estava. 

     Puxou uma cadeira  e se sentou ao meu lado :

  __  No início eu tentei conversar com cada um em separado  mas ficou tão difícil que eu me afastei um pouco. Clay está irreconhecível. 

Ele e a Paula mal se falam desde que nos separamos e ela se casou com aquele cara . ...Mas não quero falar nisso , se não se importa...

     Suspirou com pesar antes de emendar a fala para que eu não tivesse tempo de perguntar nada : __Bom, vamos ser francos : nenhum dos dois estava pronto para ser pais. Nada disso é dito claramente durante curso de gestantes ...Nem nas inúmeras revistas que Cleise lê para tentar entender esse momento. Como se fossem falar sobre a parte  real da maternidade ..

  Por outro lado , não é sempre assim . Se nem todos os momentos são de alegria também não são só de tristeza . Eles precisam conversar mas já não sei o que fazer. 


Clay se tranca naquele quarto há dias feito um adolescente e não me permite entrar lá nem para arrumar.  Sei que ele tem dormido lá  também,  porque eu o vi levar lençol e travesseiro para lá. Pensei que seria durante o período de resguardo e que isso logo se resolveria . 

Mas essa fase já passou e ele continua agindo assim. Não são mais um casal...Você já é adulta, minha querida , não preciso ser mais explícita,  não é? - Disse,  piscando o olho".

    Sorri e me senti corar. É estranho falar de sexo  com tia Cleo. 

Minha mãe nunca falou sobre isso ...Quer dizer...falava sim.Que eu deveria permanecer virgem até o casamento e ela não ficou nada satisfeita quando fui morar com Mateus um pouco antes do casamento. ..Eu temei e o resultado ? O canalha do Mateus resolveu me trair naquela que  seria nossa cama ...A viagem marcada pra lua de mel ...A vergonha ..Não quero lembrar desse passado....

  __  Carla ! Carla! Está me ouvindo?

  __  O quê?  Ah! Que foi Clay?

__   Estou tentando te falar faz um tempão mas você estava tão longe que não me ouviu...

    "Dai-me paciência que não quero brigar !" 

  __   Fala !

  __  Queria te pedir desculpa ! Vamos fingir que nada daquilo aconteceu lá dentro? 

      Sorri. Então, de um jeito bem teatral ele fez cara de surpresa antes de dizer :

  __  Uau, Carla , quando chegou da Bahia ? Era só ter avisado que eu ia te buscar de carro no aeroporto!Como foi de Viagem? E a tia Gisela e tio Carlos , estão bem ?Seu irmão Rodrigo ?

    Entrei na brincadeira e respondi sem afetação. Estava mesmo com saudade do meu amigo Clay e não desse cara destemperado que eu encontrara no Ateliê. Então ele deu a deixa :

  __    Já que você voltou eu não vejo problema em levar meu ateliê para a casa da tia Cleo se ela não se importar , é lógico. Assim você pode reassumir o seu quarto.

     Pensei nas implicações que essa proposta poderia trazer . Seria o empurrãozinho que faltava para ele retornar para o quarto do casal ?

    No mesmo instante concordei com a cabeça. 

     - Vou ter que sair para levar o Akira para passear.  Quer me acompanhar? Podemos conversar. ..

     Tia Cleo se levantou satisfeita. Mexeu na panela e comentou :

     - Antes vou dar uma olhadinha lá no quarto para ver se a Cleise precisa de ajuda...Viu que está um silêncio naquele quarto? já volto.

    Ela voltou poucos minutos depois.

  - .Estão os dois dormindo!  Finalmente Cleise conseguiu dormir ! Podem ir tranquilos!

   - Obrigada Tia Cleo!  E enquanto a gente vai lá embaixo passear com Akira , a senhora pode ajeitar a casa e até mesmo  o meu quarto ,não é? 

   Clay me olhou um tanto reticente  mas pareceu disposto a manter o bom clima que reinava agora, então não retrucou.    

      Abracei tia Cleo e sussurrei em seu ouvido para só ela escutar :

   - Vai lá e olhe as telas que Clay pintou. Principalmente a que esta em fase de conclusão no cavalete Depois a gente conversa sobre isso tá? 

     Clay abriu a porta e Akira saiu todo alegre puxando a coleira  em direção ao elevador . 

    Talvez fora daquele  ambiente opressivo  meu amigo conseguisse falar sobre aquilo que o afligia . É uma chance ...Quem sabe dá certo!

      Eu estava exausta . Mal acabara de chegar de viagem e me deparei com toda aquela  confusão. 

   Porém,  eles precisavam de mim. E o descanso vai ter que esperar !

Ass: Carla


   

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Capítulo 5 - Rapadura é doce mas não é mole


Carla

Cleise deixou o quarto e caminhou em direção ao banheiro.
Seu aspecto abatido revelava muito mais que suas palavras .
Lembro-me que minha supervisora na faculdade dizia existir uma linha tênue entre ajuda e intromissão.
E que toda ajuda não solicitada é invasão de privacidade.
Nem Cleise e nem Clay pediram minha ajuda...Por outro lado,  será que eles têm consciência de que se encontram à beira de um colapso ?
Depois...
"Eles não são meus pacientes e..."
Felipe acordou ao me ouvir falar em voz alta . Ele virou de bruços no berço e se aninhou como um filhotinho de cachorro.
Dei palmadinhas em suas costas e ele pareceu se acalmar e dormiu novamente.

Eu sempre faço isso. ..
Fico falando com meus botões e quando vejo ,acabo pensando em voz alta e revelo mais do que devia às pessoas erradas...
"Tenho que tomar cuidado com essa mania..."

- ...de falar em voz alta ! Que merda,Carla.!

Ih!  Falei palavrão na frente do Felipe ! 😲


Que espécie de madrinha eu vou ser assim , desbocada? AFF!


Era o que faltavaCulpa sua,Carla! E...Agora ?!?   


Ele não voltou a dormir não e para piorar mais um pouco , resolveu mostrar que não veio a passeio!

Começou a berrar e a berrar e ...

 __Está tudo bem aí ,Carla?Cleise gritou da suíte. 

Antes que ela resolvesse sair da banheira eu respondi:


__ Está sim! 


"Que merda ,Carla , e agora ? "


Enfiei o dedo no queixo.

E o gesto deve ter colocado pra funcionar meu subconsciente ou sei lá ..Só sei que deu certo! 


"Leite !"


Dessa vez eu não falei em voz alta mas  Cleise pareceu ouvir meus pensamentos:
 __ A mamadeira já está com a fórmula e a garrafa térmica está com água fervida já. Acha que dá conta de preparar ?

Nota :

Confesso que é a primeira vez que preparo uma mamadeira e agradeci aos céus que minha amiga é mais previdente do que eu e já deixou tudo engatilhado. 

Ela sempre dizia :
 __Seja organizada ,Carla!  

E eu odiava aquilo porque ela era tão mandona, bancando a líder,  sempre resolvendo tudo , sempre a dona do jogo e agora está aqui , sem saber o que fazer da própria vida .
Para,  Carla ! Tem hora pra tudo até pra bancar a egoísta.


__ É claro que consigo , minha rainha ! - Tranquliizei-a. Eu tô lascada, issosim!

Os berros do Felipe pareciam ficar mais fortes e  minhas mãos ficaram trêmulas. 


Deixei um pouco da água cair sobre a mão.
A minha salvação surgiu na forma de tia Cleo,  que veio em meu socorro:

- Quer ajuda, Carla ? Cadê a Cleise! 


- Não,  tia Cleo,  está tudo bem! Fiquei nervosa com os berros dele e acabei me distraindo e entornando água na mão, mas ela não está tão quente quanto supus. .. A Cleise está na banheira. ...
Eu consigo dar conta. ..

- Claro que consegue , querida !


O pó ficara no fundo da mamadeira e a água na parte superior.  

Parecia um experimento de solubilidade.
Pensei que misturassem automaticamente mas...Não! 

Fiquei lá olhando para a "dita cuja", os segundos passando e o berrador lá, com o berrador aberto! 

Como pensar com um barulho desses?!?

Então,  ainda olhando para a mamadeira,  pus o dedo no queixo e  em seguida , resolvi que bastava apertar o bico com os dedos e estaria resolvido o problema!

- Você não vai fazer isso, não é?
Vai contaminar o bico com a sujeira das suas mãos. ..
- Minhas mãos não estão sujas - retruquei.
Mesmo assim não cheguei a concluir o gesto.


- Mas se não posso apertar o bico para impedir que o líquido vaze enquanto agito a mamadeira, como se faz?

"E agora ?"


Ela pegou a tampa da mamadeira e virou-a para cima. E retirou uma tampinha de plástico que nem imaginava que existisse.

- Agora , a gente recoloca isso aqui e o bico em cima e por fim , a tampa com encaixe de rosca e aperta bem . E agora coloca a tampa externa ...

" Vixe ,menina ! Tampa externa ?

De repente, o que parecia tão simples se transformou numa  parafernália de alimentar bebês!

- Nossa ,nem imaginava que existisse essa tampinha .

- Pois é ! Agora é só sacudir que o leite não vaza não!

É ela dizia isso com a maior tranquilidade como se não escutasse as centenas de decibéis que berrava e berrava! 
Retire o que falei sobre bebê calmo !

  É de enlouquecer !

- Acha que dá conta ?
- É  claro ! -Falei , sem um pingo de convicção.

Sentei na cadeira de balanço ao lado da cômoda,  pegue Felipe com todo o jeito e o aninhei em meus braços .
E dei a mamadeira.

Cleo sorriu e antes de sair do quarto,murmurou :

-  Não o deixe engolir ar !

Olhei para ela, incrédula :

- Como é? 

-Tenha certeza de manter a mamadeira com o fundo para cima .

E ela empurrou com delicadeza minha mão para cima e o fundo da mamadeira se projetou em direção ao teto, fazendo com que o líquido descesse totalmente para o bico.

- Ah! Exclamei. Mas não disse nada.

- Se precisar de mim estarei na cozinha adiantando o almoço! 

Eram tantos detalhes que ainda me pergunto porque não inventaram um manual.

- Retiro o que disse , falei baixinho para mim mesma.

" Vixe , mainha  ! Olha esse monte de revista de bebés sobre a cômoda.  É um verdadeiro manual de criar bebês!"

E onde se encaixa Clay nisso tudo ?

Felipe me olhou e aos poucos piscou e piscou e dormiu e voltou a ser o anjinho que eu conhecera. 

Deixei-o no berço.Eu já sabia o que fazer a seguir!.

❤❤❤

Dei batidas na porta e ouvi a voz do Clay. 

- Pode entrar,  Cleise ! Ah...É você? Quando chegou,  Carla ?

O pior é que ele não estava sendo sarcástico , não. Ele ainda sequer se dera conta da minha presença na casa deles! 

 Depois,  pela "amostra grátis"do trabalho que estava sendo cuidar de Felipe 24 horas por dia e sem apoio de Clay. eu tive que me controlar para não despejar tudo o que eu achava de uma vez só :

- Cheguei hoje pela manhã e sai com a Cleise um pouco dessa casa ,ela está criando mofo dentro daquele quarto. ..E na volta ela foi tomar um banho e descansar e eu dei mamadeira pro Felipe ! E você,  o que fez todo esse tempo ?!?

- Ei!  Voltou azeda assim da Bahia? Isso é jeito de falar comigo na minha casa ?

- Nossa casa, você quer dizer , por que eu voltei para ajudar a Cleise e vou ficar por aqui até a Cleise ficar bem de novo ! A Cleo precisa voltar para a casa dela , Clay! Não pode ficar indefinidamente cuidando de vocês não!  Alguma hora você vai ter que assumir sua posição de pai ,sabia? - Despejei de uma vez só. 

Esperei que ele me mandasse ficar no meu lugar ou algo assim , mas ele pareceu engolir a bronca em seco e ficou quieto.

E isso me desmontou .Alguma coisa muito séria estava acontecendo com ele e o Clay que eu conhecia se isolava quando estava com medo.

É isso!  Mas não posso ser precipitada e muito menos bancar a psicóloga com meu amigo. Ele precisa desabafar e minha função é ouvir aquilo que ele não consegue expressar !

"Somos amigos e ele não é seu paciente,  Carla "falei com meus botões de novo.

- Eu sei que deveria ajudar mais - ele falou com voz doce e sem tirar os olhos da tela-, mas eu simplesmente não sei o que fazer , nunca tive jeito com bebês!

- É claro que não!  Acha que existe uma chave que a gente aciona e de repente sabemos tudo o que precisamos saber de uma hora pra outra ? Acha que a Cleise sabe de tudo , Clay? Por favor! Ela está tão perdida quanto você,  meu caro ! E eu fui dar mamadeira pro princepezinho e descobri que tem um monte de detalhes que eu nem desconfiava!  É assim mesmo !Mas você ama a Cleise e justo no momento que ela mais precisa você a deixa sozinha ,cara? Qual é? Que cumplicidade é essa,meu rei ?

Ele não respondeu .Mas então reparei o quadro que ele estava concluindo. E era lindo !

- Você voltou com seu baianês à toda, não é? - perguntou sorrindo e em seguida voltou a falar -,  Era para eu ter dado à ela de presente de Natal mas não tive tempo de concluir esta aqui ...

Fiquei boquiaberta ...olhando. ..

❤❤❤

Olhei as demais no canto do quarto.

A mais a direita , no chão perto da janela e formando um triângulo com o rodapé,  era o retrato de Cleise de pé ,enrolada na toalha , diante do espelho. Ela estava de lado e uma expressão se felicidade no rosto.

A outra tela,  Cleise estava sentada.O livro parecia estar apoiado sobre sua barriga já volumosa  e ela estava concentrada, lendo .

Na próxima tela , mais perto do cavalete,  Cleise estava com sua enorme barriga, uma mão na região do ventre, no "pé da barriga" e a outra mantida sobre o estômago  e olhava pela janela do quarto do casal. Parecia refletir sobre o futuro.

Examinei a tela mais recente  sobre o cavalete. Clay parou um instante de pintar e aproveitei para examiná-la melhor .

Cleise estava sentada sobre a cadeira de balanço que eu mesma estivera há poucos minutos. Felipe estava em seus braços e ambos estavam com os olhos fechados. 

Eu fiquei sem saber palavras - algo bem difícil de acontecer.

ass: Carla

❤❤❤❤

Nota da autora : 

Cleise e Clay começaram o ano com novidades .A chegada de Felipe mexeu com a estabilidade recém - adquirida do relacionamento deles.Carla - que estava na Bahia cuidando dos pais -, voltou para o batizado de Felipe mas quando chegou se deparou com o caos: seus amigos mal trocando uma palavra , Cleo assoberbada cuidando de tudo e Cleise à beira de um ataque de nervos ! É....rapadura é doce mas não é mole não....E Carla se vê no meio disso meio sem saber o que fazer.


Gostaram do capítulo? 

                  ❤Até a próxima❤









sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Eu, Cleisimir dos Santos.

      Tal como acontece com o livro Blog 3k- trollados pela vida adulta, aqui eu assumo o avatar Cleisimir dos santos , a Jornalista, 30 anos, escritora de Marketing de conteúdo.
      A partir daqui, meu nome é Cleisimir dos Santos- ou a Cleise
      Fui eu quem teve a ideia de fazer um Blog , chamando para se juntar a mim nessa empreitada os antigos amigos de infância Clayton e Carla.

     Venham conhecer um pouco daquilo que os leitores já conhecem : O Blog 3k!

    Bem vindos!



O Blog Trollados pela Vida


     Antes de qualquer coisa, preciso explicar porque muitos leitores de Blog 3k me pediram para fazer um Blog real, inspirado no Livro Blog3k, publicado em 2017 e eu protelei essa ideia para justamente agora, quase oito anos após o lançamento , estar aqui finalmente, colocando o Blog Trollados pela Vida no ar.

     Estou tentando- acredito ser mesmo essa a palavra-, ser uma blogueira reconhecida e , através disso, as pessoas saibam que sim, eu escrevo ! 
    Poderia inventar mil desculpas, mas a verdade é essa aí, quero ser lida. Prosaico, não?
    É complicado essa vida de redatora de conteúdo.
    Viver na base de 300 caracteres e tentando convencer ao público de alguma coisa.
   Se pensar bem, eu vendo conteúdo para as páginas de publicidade  e muita gente lê aquilo que eu escrevo.
    A minha função é , através da minha palavra, convencer outro  a comprar ou a mudar de comportamento .
    Mas eu tenho a maior dificuldade de ser lida e como sou redatora de conteúdo, não costumo assinar minhas postagens. Logo , sou uma Ghost Writer para mim mesma!
                                                       ❤❤❤

   Nota: explicando para quem não conhece o termo. Ghost Writer é um escritor que organiza postagens e/ou escreve um livro, a partir das ideias do autor real do livro, e é o nome desse autor que constará na capa do livro e não aquele que , efetivamente, passou horas debruçado, como se parisse a narrativa. Fui clara?
   Seria cômico , se não fosse trágico.
                                                       ❤❤❤
    Voltando ao assunto
    Sei, é marketing o que eu faço , mas o que seria o marketing do que uma forma politicamente aceita de indução alheia?
   Hum, será que retiro essa frase , ou deixo assim como está e entrego ao Deus do Marketing a obrigação de  fazer das tripas, coração?
   (E Deus  tem tripas? Olha, deixa assim. Porque ele não teria? Tem gente que nem coração tem e está ai, Vivinho da Silva...)
  Pois deixo a encargo desse Deus do Marketing, sem coração e com tripas -, a obrigação de fazer com que os leitores não me odeiem. Logo eu, Cleise- uma escrita ignorada que tudo que almeja  é ser lida e, se possível, amem aquilo que eu escrevo!...

    Bom,  estou ainda aguardando as postagens dos outros autores desse Blog:
    A Carla e suas receitas veganas....
    Eca, só de pensar! ....Mas ela agora deu para isso...E por conta disso não vai rolar mais um Bobó de camarão, Um franguinho com limão, aff....
   Ainda vou dar um jeito de convencê-la a deixar disso. Mas, enfim, vou pressioná-la a me enviar novas receitas para postar aqui. Com jeitinho eu a convenço, mais dia, menos dia. Aff.
   E  quanto ao Clay.
   Esse está ainda entretido nas telas dele e tem que aprender a dividir o tempo com o Blog e com as unhas artísticas...Mas isso ele mesmo conta para vocês depois...
   Bom, me despeço aqui por agora.

                                                                        Até mais, Cleise.