Clayton entra no quarto e a encontra Cleise colocando a faixa abdominal pós-cirurgia.
Ela está absorta, fechando os últimos colchetes .
A tarefa parece complicada e ela geme enquanto se dobra.
- O que está fazendo?
- Tentando fechar essa merda! Mas eu não consigo ainda me dobrar ... Diz, bufando.
Clayton ficou olhando pra ela, desconsertado .
Então , com estudada calma , pergunta:
- Quer que eu chame a Cléo?
Olho para ele e penso em como responder, mas balançando a cabeça, digo:
- Sim, por favor !
Ele ia sair do quarto quando desiste no meio do caminho e volta no mesmo pé.
- Ela deve tá ocupada.
Se você me disser o que eu tenho que fazer, eu acho que consigo te ajudar
Sorri.
- Eu vou respirar fundo e aí você fecha esse colchete e fecha o zíper em seguida, tá !
Terminei de colocar a cinta.
Vesti por fim, o sutiã de amamentação, sobre ele a camisola com abertura frontal
E me sentei , desconfortável, na cadeira de balanço .
Felipe , ainda bem, continuava adormecido .
- você esqueceu de colocar o protetor de seio ! - Clayton entregou a caixa pra ela .
Fiz um gesto com a mão e disse:
- Eu não preciso disso !
- como assim, não precisa ?
" Como assim você ainda não sabe ?" - teve vontade de responder.
Mas estava cansada até pra discutir.
- Ele não pegou o seio, Clayton. Felipe tem tomado só mamadeira ... Ele não quis ...
Ele apontou pras inúmeras revistas sobre a mesa ao lado do computador .
--Não tinha nada sobre isso nelas?
-- ah! Sim, tem. Tudo explicando como - pego uma revista qualquer e não demoro a encontrar o texto que é quase o mesmo em todas elas :
"o leite materno é fundamental até os dois anos e que era só insistir que o bebê ia pegar , naturalmente ..."
Como se amamentar fosse um roteiro mais que previsível, só que não é, né ?! Olha a realidade, aí , pra provar ...Eu já tentei e tentei...e, nada!
Ele se aproximou da cadeira de balanço e sentou na beirada da cama, ficando em frente a ela.
- você não pode desistir, Cleise .
-- Desistir do quê, exatamente, Clayton? - Perguntei, frustrada.
Clayton ficou em silêncio , mas não disse nada.
Desistir...a palavra ficou ecoando em minha mente e me surpreendi com meu próprio desabafo, que murmurei sem perceber:
- Não sei mais o que fazer, clay!
- Posso ?
-- Pode o quê? - perguntei, confusa.
-- Posso tocar em você ?
Dei de ombros .
Ele me tocou com gentileza, colocando mão sobre o meu seio . Nem me lembro a quanto tempo ele sequer me tocou assim pela última vez.
Em outros tempos , reparo, meu peito cabia quase integralmente dentro da mão enorme com dedos compridos de artista dele. Mas agora...não !
- Estão quentes , Cleise ! - Ele comentou.
- Você está retirando o leite ? Se não tirar, pode empedrar...A Carla disse que te trouxe uma bombinha de presente...
- Qual a parte que eu disse que estou sem leite , que você não entendeu?! - Falei , sem paciência.
- O que mais a Carla falou pra você?
Ele tocou com um pouco mais de pressão.
A sensação era estranha, como se, ao serem tocados por ele, subitamente meus seios tivesse de enchido de vida!
- Não é verdade, Cleise, olha !
E mostrou para a minha camisola. O tecido estava úmido, formando uma grande mancha na altura dos seios .
- Eu não acredito!!! Clayton! Desceu !
Eu o abracei, num impulso e ele reclamou :
- Eca! Cleise, você tá com cheiro de leite !
Eu me afastei sorrindo, dele, e ele sorriu de volta .
- Eu não te via sorrindo assim fazia nem sei quanto tempo...
Brincou com a ponta dos meus cabelos ruivos.
Quando foi a última vez que os cortei mesmo?
De repente eu pensei, será que ele me deseja, ainda , mesmo gorda, flácida e com meu cabelo cheio de pontas ?
- Desculpa, tá ?!
- Pelo quê?! - sua fala me tirou do devaneio e olhei pra ele, confusa
Mas ele não respondeu e me abraçou , e em seguida, ele me tomou por entre as suas mãos e me beijou .
Cleo abriu a porta pra dizer que era pra de Felipe mamar , mas não quis interromper a cena. Eu fingi que não percebi .
Felipe , aninhado nos meus braços, estava finalmente mamando , pela primeira vez .
Ainda bastante desajeitados, tentávamos posicionar o bebê da melhor forma, mas logo ele abocanhou o seio e mamava , apertando com a mãozinha enquanto sugava com força .
Estávamos juntos , tentando.
Eu estava realmente feliz e sorria tendo o Clayton ao meu lado.
Cleo fechou a porta e saiu sem interromper a felicidade daquele momento.
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