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terça-feira, 30 de setembro de 2025

Capítulo 7-Amor em cores


Cleo

Entrei no antigo quarto de Carla e que agora Clayton transformara em Ateliê.
O quarto estava vazio  desde que ela se decidira por transferir a faculdade para a Bahia e assim ficar mais próximo dos pais dela, Gisela e Carlos.
Não convivi muito com Carlos, quando ele Gisela e a Carla ainda moravam aqui, no Rio. O pouco que me recordo dele foi a partir do que Gisela contou. 

Voltei a me concentrar nas telas assinadas por Clay. .
 Havia ainda algumas canecas na estante. Sobras do tempo que ele fazia canecas artísticas para vender para a obra assistencial da igreja de Lizete. 
Mas são as telas mesmo que revelam como ele tem talento mesmo  para isso....

Aproximei-me um pouco mais. Carla comentou sobre a tela ainda por finalizar, que está no cavalete... Era possível perceber, assim de perto, a direção da pincelada, as camadas sobrepostas.
Ainda que nenhuma daquelas telas tivesse recebido o nome Cleise, não era difícil perceber que era ela a principal fonte de inspiração . Em algumas delas, também se podia ver Felipe, sempre retratado ao lado da mãe.
Cores fortes, vibrantes.

A tela inacabada  trazia o olhar de Cleise em evidência.
Nada se assemelhava  aquele rosto cheio de olheiras, resultado das noites insones, e que se transformara numa pálida versão da mulher diante de mim.
 A Cleise real sequer imaginava que seu rosto emoldurava cada canto daquele ateliê, adormecida no quarto ao lado, num raro momento de paz.

一 Será que você percebe que não revelar seus sentimentos é aquilo que mais o afasta dele?- perguntei para mulher do cavalete, olhando fixamente para mim-, Ele, ao menos, libera seus sentimentos através da pintura.

 E ela por sua vez, libera a tensão percorrendo seus ágeis dedos pelo teclado, nas raras vezes que se permite ficar afastada de Felipe para cuidar de si mesma. Mas é você quem ele quer.  

Porque não conversam um com outro? Não seria bem mais simples?- questionei-a.-Tantos casamentos recorrem aos filhos como tábua de salvação, e quando percebem que filho não resolve crise conjugal- e , na maioria das vezes, só intensifica os problemas.

Era como se a simples presença deles tiver o poder de uma grande lente de aumento sobre os problemas nunca discutidos pelo casal. E aí...e aí terminam na porta do meu consultório. 

Sentei na poltrona em frente à enorme tela com o rosto de Cleise, de perfil. 

Azul, rosa e um tom de amarelo se sobressaía na tela...Linda. Será que  ao menos o retrato dela seria capaz de me ouvir e entender o que digo?

Balancei a cabeça em negativa.

Lembrei-me de Margarida com a idade de Cleisemir, pouco antes de engravidar. 

Eu  era muito nova ainda, não percebi como Margarida deve ter se sentido perdida... Eu estava às voltas com início de faculdade.. Paula naturalmente se aproximou mais de Margarida, na época eu não entendi o motivo,  mas hoje entendo a conexão que a maternidade não desejada trouxe para elas.
Margarida não queria ser mãe e assumiu o filho e Paula...era ainda uma adolescente quando sua mãe a convenceu em ter o filho em Minas, para onde a família se mudou até o nascimento de Clayton

E Paula passou a conviver com um irmão temporão , mimado por pais com idades de avós .

Hoje consigo entender que Paula não teve escolha . Ela não aprendeu a ser mãe ...

Além disso, Paula e eu vivíamos tendo que nos encontrar às escondidas como duas adolescentes...

Paula havia retornado a pouco tempo com seu irmão caçula temporão a tiracolo...Irmão...quantas mentiras!

Foi difícil engolir que Paula tivesse engravidado, depois de tudo que a gente vivia juntas desde o curso Normal no Instituto de Educação. 

Lizete assumiu o próprio neto como filho até que a verdade veio à tona...Paula me pediu perdão...

Pelo menos isso, daquela vez...Eu perdoei. 

Aceitei o filho dela para criarmos juntos e eu o amo como se fosse meu filho. Eu a perdoei e olha só no que deu...Mas eu realmente amo Clayton como se fosse meu filho !

❤❤❤
Respirei fundo, especialmente quando meu olhar se deparou com uma garrafa de rum pela metade na estante do quarto. Clay andava bebendo...Eu o via indo pelo mesmo caminho de Paula...

Fui até a cozinha buscar um copo.Voltei, me servi da bebida e voltei a me sentar diante da tela. Meu pensamento voltou  a vagar. 

As pinturas dele parecem ter esse poder, e novamente me vejo imersa em pensamentos.

Por ser mulher geralmente são elas, as mulheres, que mais me procuram para contratar meus serviços advocatícios, motivadas pela identificação sexual. 

Normal. Mulher prefere ser atendida por uma profissional do mesmo sexo.

Acham que advogados do sexo masculino vão se aproveitar das fragilidade delas para as assediar.

 Quando me veem assim, de Tailleur completo e salto alto, como manda o figurino apropriado ao Fórum, então elas supõe que eu seja... Feminina, e isso as deixam à vontade comigo.

 "Bem, eu sou mulher! " bebi um pouco do uísque- e sou feminina sim.. 

Sorri, balançando o copo e fazendo o gelo no interior da bebida girar em cículos.

 Gosto tanto de ser mulher que são elas, as mulheres, minha fantasia e fonte de inspiração!

Eu tenho isso muito definido em minha mente, mas nem sempre as coisas são assim tão claras.

 Clayton passou por um período de experimentação antes de se decidir pela Cleise e Paula...Ah! Paula... 

Paula ficou muito tempo ao meu lado antes de se definir pela bissexualidade. 

Se até para ela há confusão, quem dirá para quem não está habituado a discutir esse assunto, como os avós de Felipe,tanto Lizete e Paulo quanto... 

Lizete e Paulo não, não seriam eles os avós de Felipe...

Paula e eu? 

Estranho pensar assim. 

Mas, sim!- concluo-  somos eu e ela, realmente,  avós dessa criança, ao lado de Margarida e Roberto!

Tanta confusão e preconceito. Casar-se com um homem apenas para ser aceita socialmente.

Não consigo acreditar que Lizete e Paulo preferem que a filha seja infeliz ao lado de um homem, do que feliz ao meu lado,por eu ser  uma mulher.

Não acredito que Paula tenha se tornado assim agora, apenas na maturidade.

 Sexualidade é algo que já nasce conosco, não é algo decidido com a mente e que se possa mudar de repente.

Não sei a quem ela pensa que engana...Até que está durando esse casamento, já passou uma ano, vejamos quanto tempo mais...

  Será que mudar mesmo a ateliê para meu apartamento será uma boa ideia ou será mais um motivo para afastar Cleise e Clay?

 O que é melhor fazer?

Peguei a garrafa e o copo para levá-los para a cozinha.

Vamos ver o que ele fará quando perceber que a garrafa já não está aqui..





Nota da autora: Para quem está começando a acompanhar a história daqui, Cleo é a mãe por afinidade de Clayton. Cleo foi casada por muitos anos com Paula, a mãe biológica de Clayton, cuja paternidade é desconhecida.

Clayton sempre viu Cleo como sua mãe real, já que ele a a mãe biológica foram criados como irmãos.Agora é ele quem se vê ás voltas com a paternidade e nem ele, nem Cleisemir, lidam bem com essa nova realidade.

Capítulo 6 - Retratos

Carla   

 Após examinar as telas em sequência eu tive uma súbita compreensão - ou insight como se dizia na faculdade -, daquelas obras de arte  diante de mim.
    Cleise e mesmo Felipe estavam ali , retratados em cenas furtivas onde não sabiam que eram alvo do olhar artistico de Clay.
     Ainda que eu adivinhasse a resposta , precisava  confirmar minha análise :
    一 A Cleise sabe que foi retratada nas diversas fases da gravidez ?
    一  É claro que não,  ora ! Era para ser uma surpresa e ...

      Eu não disse nada,  mas mesmo assim ele bufou ao ver  meu olhar de descrença :
 一   Certo , Carla ! Não foi só  por isso !É que eu não sabia se ia ficar bom mesmo! Era meu primeiro retrato e nunca estudei pintura pra valer...você sabe disso...

A primeira pintura foi uma inspiração que surgiu do nada,  sabe? A gente tinha discutido e aí... aconteceu .

    Ele parou de falar e fechou a cara. 

De repente, começou a esbravejar:

    - Não me olha assim não! Você me perguntou sobre os retratos, não foi ? 

E  estou falando sobre eles. Porque esta com essa cara de quem não acredita numa só palavra que eu disse? 

   - Eu, Hein! Mas eu nem te interrompi ,Clay!  Sem essa !
   - Sem essa você!- ele devolveu no mesmo tom- Desde que se formou em psicologia ficou toda cheia de si achando que sabe tudo de tudo que acontece com a gente.
 Se não quer saber do que tenho pra falar e vai ficar duvidando das minhas explicações , vou ficar quieto e voltar pra minha tela ! 
   - Clay,.por Deus !- falei abrindo os braços em direção aos céus, pedindo coragem. "Força não , Deus, senão eu bato nele!"

-- Você está muito chato viu ? 

Não é à toa que está tão difícil de você se entender com a Cleise. Está totalmente na defensiva Clay e...
   - Eu não estou na defensiva porra nenhuma , Carla ! - ele vociferou , antes de jogar o pincel dentro do pote com água.

 
    A água respingou sobre a tela e sobre o avental dele

     - Para de me analisar, merda! Não sou seu paciente! 

  Eu fiquei quieta , não só para ele se acalmar como  para conseguir ler a cena  diante dos meus olhos...

    O avental dele, que sempre fora de um branco imaculado, agora estava todo respingado de tinta .

    Esse não era o Clay que conheci, maníaco por limpeza e organização e que me deixava louca porque sempre que eu procurava algo nunca estava onde eu deixara, depois de passar pela inspeção Clay. 

     Ao invés disso, agora ele pegava tudo e resolvia arrumar  pra depois eu não conseguir achar mais nada dentro do apartamento!  

    Quantas brigas tivemos motivadas pelo senso de organização de Clay em ação?

    Meu amigo só poderia ter sido abduzido por alienígenas que deixaram esse cara insuportável no lugar!

      Levei os dedos indicadores e polegares  até as têmporas e massageei-as para me acalmar . 

      O problema estava ali e se não era tão  fácil  de perceber...Entender era até bem simples!

    Ele não estava lidando nada bem com a chegada de Felipe e Cleise que por sua vez , estava estafada.

    E imersos no problema até a raiz dos cabelos , não conseguiam enxergar o que para mim parecia ser tão óbvio. 

    Eu sai do quarto para respirar  e não disse nada. 

     Dirigi-me à cozinha.

     Atarefada , tia Cleo se movimentava de cá pra lá e nem reparou na minha presença. 

     E a música que estava sempre tocando no rádio  ou saía do violão afinado de Clay , embalando nossas brincadeiras até tarde da madrugada...Adorava cozinhar ouvindo música... 

    Onde foi  parar tudo ?

    A casa  estava triste e o resultado estava ali , bem diante de nossos olhos. Sentei na cadeira da cozinha .  

      Aquele que chegou a ser o meu lugar preferido do apartamento também  estava diferente .
       Projetada originalmente no estilo americano,,a cozinha de outros tempos  era uma extensão da sala.

     Um balcão de madeira  servia tanto como divisor de ambientes e aparador dos pratos na hora da refeição como era perfeito  para receber o preparo de alguma refeição ligeira.


    Eu conheci bem aquela cozinha em outros tempos .


    Durante um ano  preparei os pratos que acompanhava nossos momentos de brincadeira, nossas conversas ...A gente brigava?  Com certeza ! Mas nunca experimentamos esse nível de tensão. 

     E o que é mais estranho é que tudo isso está justamente acontecendo agora-naquele que deveria ser o momento mais feliz na vida de todos .

     Eu precisava agir mas não não sabia o que fazer. ..Não ensinam  isso na faculdade! 

    - Oi , minha querida ! Está aí há muito tempo ? Não vi você chegar...

    - Oi, tia Cleo!  

A coisa está meio tensa lá dentro né?  Deixei aqueles dois e vim aqui para respirar um pouco....Não sabia que estava tão difícil assim!  Se continuar desse jeito nem sei o que vai acontecer...

    Cleo enxugou as mãos no pano de copa pendurado num puxador fixado no azulejo  sobre o fogão e veio até onde eu estava. 

     Puxou uma cadeira  e se sentou ao meu lado :

  __  No início eu tentei conversar com cada um em separado  mas ficou tão difícil que eu me afastei um pouco. Clay está irreconhecível. 

Ele e a Paula mal se falam desde que nos separamos e ela se casou com aquele cara . ...Mas não quero falar nisso , se não se importa...

     Suspirou com pesar antes de emendar a fala para que eu não tivesse tempo de perguntar nada : __Bom, vamos ser francos : nenhum dos dois estava pronto para ser pais. Nada disso é dito claramente durante curso de gestantes ...Nem nas inúmeras revistas que Cleise lê para tentar entender esse momento. Como se fossem falar sobre a parte  real da maternidade ..

  Por outro lado , não é sempre assim . Se nem todos os momentos são de alegria também não são só de tristeza . Eles precisam conversar mas já não sei o que fazer. 


Clay se tranca naquele quarto há dias feito um adolescente e não me permite entrar lá nem para arrumar.  Sei que ele tem dormido lá  também,  porque eu o vi levar lençol e travesseiro para lá. Pensei que seria durante o período de resguardo e que isso logo se resolveria . 

Mas essa fase já passou e ele continua agindo assim. Não são mais um casal...Você já é adulta, minha querida , não preciso ser mais explícita,  não é? - Disse,  piscando o olho".

    Sorri e me senti corar. É estranho falar de sexo  com tia Cleo. 

Minha mãe nunca falou sobre isso ...Quer dizer...falava sim.Que eu deveria permanecer virgem até o casamento e ela não ficou nada satisfeita quando fui morar com Mateus um pouco antes do casamento. ..Eu temei e o resultado ? O canalha do Mateus resolveu me trair naquela que  seria nossa cama ...A viagem marcada pra lua de mel ...A vergonha ..Não quero lembrar desse passado....

  __  Carla ! Carla! Está me ouvindo?

  __  O quê?  Ah! Que foi Clay?

__   Estou tentando te falar faz um tempão mas você estava tão longe que não me ouviu...

    "Dai-me paciência que não quero brigar !" 

  __   Fala !

  __  Queria te pedir desculpa ! Vamos fingir que nada daquilo aconteceu lá dentro? 

      Sorri. Então, de um jeito bem teatral ele fez cara de surpresa antes de dizer :

  __  Uau, Carla , quando chegou da Bahia ? Era só ter avisado que eu ia te buscar de carro no aeroporto!Como foi de Viagem? E a tia Gisela e tio Carlos , estão bem ?Seu irmão Rodrigo ?

    Entrei na brincadeira e respondi sem afetação. Estava mesmo com saudade do meu amigo Clay e não desse cara destemperado que eu encontrara no Ateliê. Então ele deu a deixa :

  __    Já que você voltou eu não vejo problema em levar meu ateliê para a casa da tia Cleo se ela não se importar , é lógico. Assim você pode reassumir o seu quarto.

     Pensei nas implicações que essa proposta poderia trazer . Seria o empurrãozinho que faltava para ele retornar para o quarto do casal ?

    No mesmo instante concordei com a cabeça. 

     - Vou ter que sair para levar o Akira para passear.  Quer me acompanhar? Podemos conversar. ..

     Tia Cleo se levantou satisfeita. Mexeu na panela e comentou :

     - Antes vou dar uma olhadinha lá no quarto para ver se a Cleise precisa de ajuda...Viu que está um silêncio naquele quarto? já volto.

    Ela voltou poucos minutos depois.

  - .Estão os dois dormindo!  Finalmente Cleise conseguiu dormir ! Podem ir tranquilos!

   - Obrigada Tia Cleo!  E enquanto a gente vai lá embaixo passear com Akira , a senhora pode ajeitar a casa e até mesmo  o meu quarto ,não é? 

   Clay me olhou um tanto reticente  mas pareceu disposto a manter o bom clima que reinava agora, então não retrucou.    

      Abracei tia Cleo e sussurrei em seu ouvido para só ela escutar :

   - Vai lá e olhe as telas que Clay pintou. Principalmente a que esta em fase de conclusão no cavalete Depois a gente conversa sobre isso tá? 

     Clay abriu a porta e Akira saiu todo alegre puxando a coleira  em direção ao elevador . 

    Talvez fora daquele  ambiente opressivo  meu amigo conseguisse falar sobre aquilo que o afligia . É uma chance ...Quem sabe dá certo!

      Eu estava exausta . Mal acabara de chegar de viagem e me deparei com toda aquela  confusão. 

   Porém,  eles precisavam de mim. E o descanso vai ter que esperar !

Ass: Carla


   

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Capítulo 5 - Rapadura é doce mas não é mole


Carla

Cleise deixou o quarto e caminhou em direção ao banheiro.
Seu aspecto abatido revelava muito mais que suas palavras .
Lembro-me que minha supervisora na faculdade dizia existir uma linha tênue entre ajuda e intromissão.
E que toda ajuda não solicitada é invasão de privacidade.
Nem Cleise e nem Clay pediram minha ajuda...Por outro lado,  será que eles têm consciência de que se encontram à beira de um colapso ?
Depois...
"Eles não são meus pacientes e..."
Felipe acordou ao me ouvir falar em voz alta . Ele virou de bruços no berço e se aninhou como um filhotinho de cachorro.
Dei palmadinhas em suas costas e ele pareceu se acalmar e dormiu novamente.

Eu sempre faço isso. ..
Fico falando com meus botões e quando vejo ,acabo pensando em voz alta e revelo mais do que devia às pessoas erradas...
"Tenho que tomar cuidado com essa mania..."

- ...de falar em voz alta ! Que merda,Carla.!

Ih!  Falei palavrão na frente do Felipe ! 😲


Que espécie de madrinha eu vou ser assim , desbocada? AFF!


Era o que faltavaCulpa sua,Carla! E...Agora ?!?   


Ele não voltou a dormir não e para piorar mais um pouco , resolveu mostrar que não veio a passeio!

Começou a berrar e a berrar e ...

 __Está tudo bem aí ,Carla?Cleise gritou da suíte. 

Antes que ela resolvesse sair da banheira eu respondi:


__ Está sim! 


"Que merda ,Carla , e agora ? "


Enfiei o dedo no queixo.

E o gesto deve ter colocado pra funcionar meu subconsciente ou sei lá ..Só sei que deu certo! 


"Leite !"


Dessa vez eu não falei em voz alta mas  Cleise pareceu ouvir meus pensamentos:
 __ A mamadeira já está com a fórmula e a garrafa térmica está com água fervida já. Acha que dá conta de preparar ?

Nota :

Confesso que é a primeira vez que preparo uma mamadeira e agradeci aos céus que minha amiga é mais previdente do que eu e já deixou tudo engatilhado. 

Ela sempre dizia :
 __Seja organizada ,Carla!  

E eu odiava aquilo porque ela era tão mandona, bancando a líder,  sempre resolvendo tudo , sempre a dona do jogo e agora está aqui , sem saber o que fazer da própria vida .
Para,  Carla ! Tem hora pra tudo até pra bancar a egoísta.


__ É claro que consigo , minha rainha ! - Tranquliizei-a. Eu tô lascada, issosim!

Os berros do Felipe pareciam ficar mais fortes e  minhas mãos ficaram trêmulas. 


Deixei um pouco da água cair sobre a mão.
A minha salvação surgiu na forma de tia Cleo,  que veio em meu socorro:

- Quer ajuda, Carla ? Cadê a Cleise! 


- Não,  tia Cleo,  está tudo bem! Fiquei nervosa com os berros dele e acabei me distraindo e entornando água na mão, mas ela não está tão quente quanto supus. .. A Cleise está na banheira. ...
Eu consigo dar conta. ..

- Claro que consegue , querida !


O pó ficara no fundo da mamadeira e a água na parte superior.  

Parecia um experimento de solubilidade.
Pensei que misturassem automaticamente mas...Não! 

Fiquei lá olhando para a "dita cuja", os segundos passando e o berrador lá, com o berrador aberto! 

Como pensar com um barulho desses?!?

Então,  ainda olhando para a mamadeira,  pus o dedo no queixo e  em seguida , resolvi que bastava apertar o bico com os dedos e estaria resolvido o problema!

- Você não vai fazer isso, não é?
Vai contaminar o bico com a sujeira das suas mãos. ..
- Minhas mãos não estão sujas - retruquei.
Mesmo assim não cheguei a concluir o gesto.


- Mas se não posso apertar o bico para impedir que o líquido vaze enquanto agito a mamadeira, como se faz?

"E agora ?"


Ela pegou a tampa da mamadeira e virou-a para cima. E retirou uma tampinha de plástico que nem imaginava que existisse.

- Agora , a gente recoloca isso aqui e o bico em cima e por fim , a tampa com encaixe de rosca e aperta bem . E agora coloca a tampa externa ...

" Vixe ,menina ! Tampa externa ?

De repente, o que parecia tão simples se transformou numa  parafernália de alimentar bebês!

- Nossa ,nem imaginava que existisse essa tampinha .

- Pois é ! Agora é só sacudir que o leite não vaza não!

É ela dizia isso com a maior tranquilidade como se não escutasse as centenas de decibéis que berrava e berrava! 
Retire o que falei sobre bebê calmo !

  É de enlouquecer !

- Acha que dá conta ?
- É  claro ! -Falei , sem um pingo de convicção.

Sentei na cadeira de balanço ao lado da cômoda,  pegue Felipe com todo o jeito e o aninhei em meus braços .
E dei a mamadeira.

Cleo sorriu e antes de sair do quarto,murmurou :

-  Não o deixe engolir ar !

Olhei para ela, incrédula :

- Como é? 

-Tenha certeza de manter a mamadeira com o fundo para cima .

E ela empurrou com delicadeza minha mão para cima e o fundo da mamadeira se projetou em direção ao teto, fazendo com que o líquido descesse totalmente para o bico.

- Ah! Exclamei. Mas não disse nada.

- Se precisar de mim estarei na cozinha adiantando o almoço! 

Eram tantos detalhes que ainda me pergunto porque não inventaram um manual.

- Retiro o que disse , falei baixinho para mim mesma.

" Vixe , mainha  ! Olha esse monte de revista de bebés sobre a cômoda.  É um verdadeiro manual de criar bebês!"

E onde se encaixa Clay nisso tudo ?

Felipe me olhou e aos poucos piscou e piscou e dormiu e voltou a ser o anjinho que eu conhecera. 

Deixei-o no berço.Eu já sabia o que fazer a seguir!.

❤❤❤

Dei batidas na porta e ouvi a voz do Clay. 

- Pode entrar,  Cleise ! Ah...É você? Quando chegou,  Carla ?

O pior é que ele não estava sendo sarcástico , não. Ele ainda sequer se dera conta da minha presença na casa deles! 

 Depois,  pela "amostra grátis"do trabalho que estava sendo cuidar de Felipe 24 horas por dia e sem apoio de Clay. eu tive que me controlar para não despejar tudo o que eu achava de uma vez só :

- Cheguei hoje pela manhã e sai com a Cleise um pouco dessa casa ,ela está criando mofo dentro daquele quarto. ..E na volta ela foi tomar um banho e descansar e eu dei mamadeira pro Felipe ! E você,  o que fez todo esse tempo ?!?

- Ei!  Voltou azeda assim da Bahia? Isso é jeito de falar comigo na minha casa ?

- Nossa casa, você quer dizer , por que eu voltei para ajudar a Cleise e vou ficar por aqui até a Cleise ficar bem de novo ! A Cleo precisa voltar para a casa dela , Clay! Não pode ficar indefinidamente cuidando de vocês não!  Alguma hora você vai ter que assumir sua posição de pai ,sabia? - Despejei de uma vez só. 

Esperei que ele me mandasse ficar no meu lugar ou algo assim , mas ele pareceu engolir a bronca em seco e ficou quieto.

E isso me desmontou .Alguma coisa muito séria estava acontecendo com ele e o Clay que eu conhecia se isolava quando estava com medo.

É isso!  Mas não posso ser precipitada e muito menos bancar a psicóloga com meu amigo. Ele precisa desabafar e minha função é ouvir aquilo que ele não consegue expressar !

"Somos amigos e ele não é seu paciente,  Carla "falei com meus botões de novo.

- Eu sei que deveria ajudar mais - ele falou com voz doce e sem tirar os olhos da tela-, mas eu simplesmente não sei o que fazer , nunca tive jeito com bebês!

- É claro que não!  Acha que existe uma chave que a gente aciona e de repente sabemos tudo o que precisamos saber de uma hora pra outra ? Acha que a Cleise sabe de tudo , Clay? Por favor! Ela está tão perdida quanto você,  meu caro ! E eu fui dar mamadeira pro princepezinho e descobri que tem um monte de detalhes que eu nem desconfiava!  É assim mesmo !Mas você ama a Cleise e justo no momento que ela mais precisa você a deixa sozinha ,cara? Qual é? Que cumplicidade é essa,meu rei ?

Ele não respondeu .Mas então reparei o quadro que ele estava concluindo. E era lindo !

- Você voltou com seu baianês à toda, não é? - perguntou sorrindo e em seguida voltou a falar -,  Era para eu ter dado à ela de presente de Natal mas não tive tempo de concluir esta aqui ...

Fiquei boquiaberta ...olhando. ..

❤❤❤

Olhei as demais no canto do quarto.

A mais a direita , no chão perto da janela e formando um triângulo com o rodapé,  era o retrato de Cleise de pé ,enrolada na toalha , diante do espelho. Ela estava de lado e uma expressão se felicidade no rosto.

A outra tela,  Cleise estava sentada.O livro parecia estar apoiado sobre sua barriga já volumosa  e ela estava concentrada, lendo .

Na próxima tela , mais perto do cavalete,  Cleise estava com sua enorme barriga, uma mão na região do ventre, no "pé da barriga" e a outra mantida sobre o estômago  e olhava pela janela do quarto do casal. Parecia refletir sobre o futuro.

Examinei a tela mais recente  sobre o cavalete. Clay parou um instante de pintar e aproveitei para examiná-la melhor .

Cleise estava sentada sobre a cadeira de balanço que eu mesma estivera há poucos minutos. Felipe estava em seus braços e ambos estavam com os olhos fechados. 

Eu fiquei sem saber palavras - algo bem difícil de acontecer.

ass: Carla

❤❤❤❤

Nota da autora : 

Cleise e Clay começaram o ano com novidades .A chegada de Felipe mexeu com a estabilidade recém - adquirida do relacionamento deles.Carla - que estava na Bahia cuidando dos pais -, voltou para o batizado de Felipe mas quando chegou se deparou com o caos: seus amigos mal trocando uma palavra , Cleo assoberbada cuidando de tudo e Cleise à beira de um ataque de nervos ! É....rapadura é doce mas não é mole não....E Carla se vê no meio disso meio sem saber o que fazer.


Gostaram do capítulo? 

                  ❤Até a próxima❤









sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Eu, Cleisimir dos Santos.

      Tal como acontece com o livro Blog 3k- trollados pela vida adulta, aqui eu assumo o avatar Cleisimir dos santos , a Jornalista, 30 anos, escritora de Marketing de conteúdo.
      A partir daqui, meu nome é Cleisimir dos Santos- ou a Cleise
      Fui eu quem teve a ideia de fazer um Blog , chamando para se juntar a mim nessa empreitada os antigos amigos de infância Clayton e Carla.

     Venham conhecer um pouco daquilo que os leitores já conhecem : O Blog 3k!

    Bem vindos!



O Blog Trollados pela Vida


     Antes de qualquer coisa, preciso explicar porque muitos leitores de Blog 3k me pediram para fazer um Blog real, inspirado no Livro Blog3k, publicado em 2017 e eu protelei essa ideia para justamente agora, quase oito anos após o lançamento , estar aqui finalmente, colocando o Blog Trollados pela Vida no ar.

     Estou tentando- acredito ser mesmo essa a palavra-, ser uma blogueira reconhecida e , através disso, as pessoas saibam que sim, eu escrevo ! 
    Poderia inventar mil desculpas, mas a verdade é essa aí, quero ser lida. Prosaico, não?
    É complicado essa vida de redatora de conteúdo.
    Viver na base de 300 caracteres e tentando convencer ao público de alguma coisa.
   Se pensar bem, eu vendo conteúdo para as páginas de publicidade  e muita gente lê aquilo que eu escrevo.
    A minha função é , através da minha palavra, convencer outro  a comprar ou a mudar de comportamento .
    Mas eu tenho a maior dificuldade de ser lida e como sou redatora de conteúdo, não costumo assinar minhas postagens. Logo , sou uma Ghost Writer para mim mesma!
                                                       ❤❤❤

   Nota: explicando para quem não conhece o termo. Ghost Writer é um escritor que organiza postagens e/ou escreve um livro, a partir das ideias do autor real do livro, e é o nome desse autor que constará na capa do livro e não aquele que , efetivamente, passou horas debruçado, como se parisse a narrativa. Fui clara?
   Seria cômico , se não fosse trágico.
                                                       ❤❤❤
    Voltando ao assunto
    Sei, é marketing o que eu faço , mas o que seria o marketing do que uma forma politicamente aceita de indução alheia?
   Hum, será que retiro essa frase , ou deixo assim como está e entrego ao Deus do Marketing a obrigação de  fazer das tripas, coração?
   (E Deus  tem tripas? Olha, deixa assim. Porque ele não teria? Tem gente que nem coração tem e está ai, Vivinho da Silva...)
  Pois deixo a encargo desse Deus do Marketing, sem coração e com tripas -, a obrigação de fazer com que os leitores não me odeiem. Logo eu, Cleise- uma escrita ignorada que tudo que almeja  é ser lida e, se possível, amem aquilo que eu escrevo!...

    Bom,  estou ainda aguardando as postagens dos outros autores desse Blog:
    A Carla e suas receitas veganas....
    Eca, só de pensar! ....Mas ela agora deu para isso...E por conta disso não vai rolar mais um Bobó de camarão, Um franguinho com limão, aff....
   Ainda vou dar um jeito de convencê-la a deixar disso. Mas, enfim, vou pressioná-la a me enviar novas receitas para postar aqui. Com jeitinho eu a convenço, mais dia, menos dia. Aff.
   E  quanto ao Clay.
   Esse está ainda entretido nas telas dele e tem que aprender a dividir o tempo com o Blog e com as unhas artísticas...Mas isso ele mesmo conta para vocês depois...
   Bom, me despeço aqui por agora.

                                                                        Até mais, Cleise.