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quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Capítulo 4- Agora é pra valer!!!

    Após  deixar a  portaria  e pisar pela primeira vez na calçada em frente ao edifício, fui albaroada por um misto de sensações incoerentes, boas e ruins .
   
     Sim! Eu li com avidez  todos os sites para gestantes e revistas especializadas que me deparei pela frente no decorrer dos meses, além de conversar com outras mães a respeito deste temor e de outros assuntos  no curso pré-natal .
    Que temor? Ora...  É que depois de meses de teoria, finalmente chegara o momento de ir para a parte prática da coisa, isso é, deixar de imaginar e virar mãe.
    Agora é pra valer!  Eu estava preparada para esse momento, certo?
     Bem, é claro que sim!...
.    Só que não!💣

    __ Esqueça tudo, Cleise ! Disse para mim mesma, frustrada -,Uma coisa é ler a respeito, outra é experimentar. Como é que  vou conseguir levar tudo  numa boa se a vida não cansa de me trollar assim?

    Suspirei. Há um mês- quem diria?-, atravessei essa mesma  porta de vidro carregando Felipe em meus braços e, envolta em uma doce nuvem de certezas, entrei com a cara e com a coragem nessa nova etapa da minha vida.
    Após esse momento idílico, porém,  a doce nuvem que pairava sobre nós evaporou-se quando as surpresas  acumularam-se  num  ritmo alucinante, sem nem me dar tempo para respirar .
    Nada era exatamente como imaginei.
    Atordoada, nem dei conta da passagem do tempo até que Carla me chamou através de videoconferência para dizer que retornaria de Minas para o batizado de Felipe dali a uns dias.

      __Oi? Mas ainda falta mais de um mês, Carla! - retruquei.Foi ontem que cheguei da maternidade...Não foi?

     Bastou esse comentário para que ela retornasse de Minas para o Rio num piscar de olhos.
     Essa é a minha amiga, sempre apagando incêndios..
     Agora, era ela quem não estava nem aí para minhas elocubrações mentais e me empurrava  porta afora.
     Hoje, mais cedo, foi a primeira vez que saí de casa depois de um mês de clausura voluntária.
     E não é que  esqueci de pegar os óculos escuros?  A  claridade   me ofuscou, mesmo àquela hora da manhã.
     Fechei os olhos quase no mesmo instante.
     Como um Morlock[1],  a Cleise que ainda existia dentro de mim  lutou com todas as forças para  sair do submundo em que fora relegada e emergir em direção à luz. Foi ela quem se manifestou com veemência:

    __ Minha Nossa!  Devo estar horrível, descabelada, sem fazer as unhas e  cheia de olheiras! Preciso dos meus óculos escuros!

     Nota : "Nossa, Cleise ! Que coisa melodramática ! Eca! Felipe é um bebê, por Deus! Corta essa frase! Está horrível esse texto, aff! Não merece constar nem  do meu diário pessoal . 
                
      Voltando ao normal em 3, 2, 1...


      Era como se a minha versão dondoca tivesse fugido assim que me tornei mãe.
      Será que eu tinha minha parcela de culpa nos ciúmes desmedidos do Clay? Será que ele não tinha um fundo de razão?
     Contive a custos o ímpeto de girar sob os calcanhares,correr para o elevador e voltar para o meu quarto, tomar meu bebê em meus braços e me fechar outra vez  no interior seguro da Nave Mãe.
     Quem diria que logo eu, Cleisimir dos Santos, acostumada a perder  horas de sono em noitadas, agora tudo que mais queria era conseguir dormir  uma noite inteira...e sozinha!
     So- zi-nha!!!💤
     Bêbada de sono e ainda de olhos fechados, espreguicei.
    O contato do sol sobre minha pele aqueceu como um carinho. Desisti da fuga e desejei ficar por ali mesmo, mesmo que por uns poucos minutos  a  mais, quietinha sob o sol..
     Carla tinha outros planos em mente para nós, porém, e voltou a me arrastar  até a rua e continuou caminhando e  me levando arrastada com ela.
    Depois de um tempo, ela parou de me puxar e soltou meu braço, passando a caminhar mais um pouco em  frente, na certeza de que eu a acompanharia sem reclamar..
     Percorremos a avenida 28 de Setembro até chegar ao Bob's na esquina  com a rua  Souza Franco
     Eu a seguia logo atrás,ainda em estado de torpor. Mas não era o bastante para me calar :

__ Para que caminhar tanto apenas por um suco de laranja , Carla? Tenho que retornar logo para ficar com o Felipe...

__ Não tem não! Cleo está com ele e temos três horas pela frente até que ele precise mamar de novo.

__ E se algo acontecer e a Cleo precisar de ajuda?
 
    O boêmico bairro de Vila isabel  também estava custando a  acordar  neste domingo preguiçoso , sem as pessoas que transitavam  para pegar ônibus para o trabalho ou para estudar na UERJ a poucos metros de distância.
     Não ia demorar porém, até que  os pontos de ônibus  retomassem à vida quando um monte de adultos e crianças carregando cadeiras e bolsas, seguissem para a praia.
  __ Clay está no ateliê, não está? Já está mais do que na hora dele ser um adulto resposável... - Ela comentou enquanto se decidia por algo para comer, olhando para o menu fixado no painel atrás do caixa da lanchonete.
     Por fim,pediu uma salada de frango.
     "Carla não era vegetariana?" Estranhei. " O que foi que eu perdi?"
     Resolvi não perguntar nada, porque não queria demorar muito mais do que necessário por ali, estendendo a conversa para além do tempo de tomar o tal  suco de laranja.
       O combinado era apenas  tomar um suco , sem nenhum papo-cabeça!

       Escolhi as palavras certas antes de retrucar:
 __ Ele está sim, no ateliê , mas duvido que saia de lá por qualquer coisinha.

      Ela me olhou de soslaio.

__  Qualquer...coisinha?  Vamos conversar depois sobre isso tudo,  tintim por timtim.  Antes, vamos comer, que  estou morta de fome Vai querer o quê?

__ Hum.,.. Vou te acompanhar no pedido. Uma salada de frango é mesmo uma delícia irrecusável, não é?

   Ela riu antes de comentar:

 ___ Vim aqui por você, tá? Pode esquecer que não vou cair nessa não.Em outro momento pode perguntar o que quiser sobre mim, está bem assim? Mas hoje, para variar, vamos falar de você.

     Ela me interrompeu antes que eu esboçasse uma frase :

__ Não vamos falar sobre Felipe, nem mesmo sobre  Clay. Que tal falar sobre você, Cleise? Já se deu conta que há meses  não escuto me contar nada  que seja sobre você mesma, minha amiga? O que está havendo?

    Mordi o sanduíche e os pensamentos começaram a rondar minha mente. E se maionese fizer mal para o Felipe ?

    Ah! Não vai fazer a menor diferença para ele se eu como ou não o sanduíche com maionese... É... Não tenho como saber se ele é intolerante  porque... ele não mama....

       E aí,  foi a vez do sentimento de culpa voltar com tudo.

__  Como se sente, Cleise?

      " Como  traduzir um poucas palavras tantos sentimentos confusos?"

     E sem me dar conta , desabafei  em voz alta:

__ Estou exausta!

__Eu sei disso, Cleise e é por isso que vim correndo.O que posso fazer por você?

 __ No momento, estou exausta mesmo! Preciso dormir, sabe? E fico sem graça de chamar a Cleo todo o tempo. Por mais que ela esteja lá para ajudar, ela... .Acho que se eu pudesse dormir já era um bom começo.
__ E dinda, Cleise? Porque ela não está ao seu lado?
__ Ela ficou com raiva quando fui visitar Larissa no finalzinho da gravidez dela. Se sentiu traída, até entendo...Mas como recusar o convite do meu pai?
     "Meu padrasto agora esta às voltas com o primeiro ano do seu próprio filho. E sabe como é, Carla, durante anos minha mãe quis ter outro filho mas Roberto disse que uma criança ia atrapalhar tudo,  que  eu estava crescendo, precisava de atenção e o tempo foi passando.."
   "Aí, ele conheceu a Larissa, anos mais nova  que minha mãe, e quando ela menos esperava , Larissa se tornou a segunda mulher de meu pai e- a cereja do bolo-, eu e e ela ficamos grávida  quase ao mesmo tempo. Imagine só! Meu filho e meu meio irmão tem  menos de um ano de diferença entre eles ! Isso foi demais para ela..."
__ E sua avó, o que diz sobre tudo isso?
__ Aí que está. Ela fica enchendo a cabeça da minha mãe contra Roberto, e até sobre mim, porque estou em pecado mortal, já que não oficializei perante Deus meu casamento com Clay e agora, o meu Felipe é a confirmação perante aos olhos de todos, do meu mau passo. Pode uma coisa dessa?
__ Eu sei , Cleise, eu sei. Racionalmente a gente entende tudo isso. Eles são de outra geração. Se já é difícil para nossos pais, imagina para nossos avós... Uma pena! É o primeira bisneto da família Santos.. O coração fica machucado né?
__ É!- Murmurei.
__ Eu...eu queria ter minha mãe pertinho de mim, perguntar tantas coisas  e  a verdade é que nunca me senti tão sozinha...
__  Vamos com calma, certo? Uma coisa de cada vez. Agora vamos voltar para sua casa e eu ficarei com Felipe até ele acordar e você , minha cara, vai dormir.  Melhor...   Vai tomar um banho relaxante e aí sim, dormir. Meia hora, que acha?
__ Dormir por meia hora ? Meu sonho de consumo -  forcei o sorriso.
__ Vou ficar um tempo aqui com vocês e amanhã mesmo vamos ver se conseguimos adiar o batizado de Felipe. Nâo teremos como resolver tudo da noite para o dia...
__ Isso é verdade...Combinado então.

      Agora sim, eu estava pronta para voltar para casa. Com o coração  um pouco mais leve e os pensamentos que  começavam  pouco a pouco a  ficar claros como o dia de sol que tínhamos pela frente.

                                                                                                   ass:Cleise

 
[1]Morlock.Os morlocks são personagens criados pelo escritor britânico H. G. Wells para seu livro A Máquina do Tempo. São seres humanóides que vivem nos subterrâneos do século 8.028. Eles descenderam dos seres humanos que se abrigaram no subterrâneo após uma guerra nuclear que devastou o mundo. Ao longo de mais de 800 mil anos de evolução estes humanos acabaram dando origem à uma nova espécie, os Morlocks. Essas criaturas são muito pálidas devido à falta de melanina, são sensíveis à luz do sol e quase cegos. Eles se alimentam de Elois, outra raça derivada dos humanos que ficaram na superfície.


Nota da autora:
Chegou agora para ler a história?
 Recapitulando até aqui :
 Cleise e Clay estão às voltas com o nascimento do primeiro filho, Felipe. Temporariamente, Cleo- a mãe afetiva de Clay- se mudou para a casa de Cleise para ajudá-la nessa fase inicial, despertando a ira da mãe de Cleise- Margarida-, que também despeja sobre a filha a revolta em ver o padastro de Cleise deixá-la por outra mulher, mais nova que ela- Larissa.E tudo piora quando Larissa engravida. 
Margarida- mãe de Cleise-, Gisela- mãe de Carla e madrinha de Cleise-, Cleo e Paula- que namoravam escondidas desde a adolescência e que se tornaram mães de Clay-, formavam o "Quarteto ternurinha "em meados dos anos 70. A paixão de Cleo e Paula- esta que  é a mãe biológica de Clay- resistiu às passagens das décadas e rompeu barreiras até que Paula, em plena "meia idade", resolveu fazer as pazes com a sociedade e se casar com um homem, abandonando a companheira Cleo.

Gostaram do Capítulo? Em breve, vou apresentar a capa desse novo livro para vocês! Fiquem atentos!

                                                               ❤Até a Próxima!❤
                                   



segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Capítulo 3-Tudo bem quando termina bem!

__ Oi, OI, OI! Não é muito cedo para um striptease não? Ainda não são oito da manhã!- Ela disse entrando de supetão pela porta entreaberta do quarto.
__ E tem horário certo para um striptease, Carla? - retruquei,  fechando a abertura especial do sutiã de amamentação.

Tanto trabalho procurando sutiãs , decidindo entre sutiã com e sem  bojo ou que tivesse  aquela abertura frontal..
Entrei até em site de pergunta e resposta na web, para perguntar a respeito do que comprar e me responderam que "os melhores têm abertura frontal, por meio de um ganchinho ou peça de encaixe, e são bem fáceis de abrir e fechar com uma mão só, já que com a outra você estará segurando o seu bebê. Essa abertura é no próprio bojo, mas permite que o mamilo fique para fora e o resto do seio continue sendo sustentado pela parte de baixo do sutiã." 

Aí, decidi por fim por dois sutiãs de amamentação, e só  encontrei na indefectível cor caramelo. 
É meio como se a mãe deixasse de ser mulher e não pudesse ousar nas cores, só restando para ela usar sempre a cor caramelo. Argh!
 Enfim..Agora estou aqui, depois de tanto preparo e ...Eu não consigo fazer o Felipe pegar o seio. Simples assim. Não tenho leite!
Na maternidade foi um suplício, mas a enfermeira havia dito que talvez em casa, num ambiente conhecido, o leite pudesse descer com mais tranquilidade e sentindo o cheiro, o bebê pegaria o seio. 
Eu até achei graça ao ouví-la  a se referir a meu filho como se de repente  se transformasse num cão perdigueiro, e meu peito, em um fast foood...

 Sorri com tristeza, pegando a mamadeira que  havia deixado preparada com a fórmula  receitada pelo pediatra para lactantes, caso mais uma vez Felipe se recusasse a mamar.
 Ela apertou os olhos enquanto observava  a gula com que Felipe passou a tomar o leite na mamadeira e fez a pergunta certa- aquela que eu preferia não responder:
__ Você não comentou que Felipe estava tomando mamadeira...Aliás, havia dito que não estava com problemas com a amamentação...
__ É presente para Felipe?__,  Mostrei o embrulho nas mãos dela e ela me entregou um dos  embrulhos coloridos que trazia. 
__ Sim... e não. 
Abri o presente e entendi o recado. Era uma bombinha de sucção manual. 
__ Agora vou virar uma vaca, sendo ordenhada?
__ Progredimos, viu só? Há pouco mais de uma nos a gente estava sendo chamada de tia numa lanchonete às onze da noite e agora...
__ Agora eu virei uma vaca leiteira! 
__ Eu ia dizer que agora você está casada, com um filho lindo nos braços e eu, por minha vez, sou agora uma psicóloga formada  e  voltei para assumir meu posto de madrinha dessa fofura! Posso?

Com exceção de Cleo, que na condição de "avó" segura o Felipe desde que chegamos do Hospital, Carla é a primeira pessoa que se dispõe a segurar meu filhote.
__  Claro que pode, Carla. Já vai se acostumando com ele, afinal terá que segurá-lo ao ser batizado, não é?
__ E o meu futuro compadre, onde está?
__ Está no quarto dele...no ateliê, quer dizer...-Apressei-me a consertar o que deixei escapar sem perceber. __Eu não havia pensado nisso, Carla, onde você vai ficar agora? O seu quarto está lotado de telas e tintas, você não vai aguentar aquele cheiro não! Se ao menos tivesse me dito que vinha dias antes do batizado...
__ Sei... E tem alguma dúvida que eu ficarei por aqui?- Disse passando a mão sobre o lençol-, Essa cama de casal sempre foi meu desejo de consumo mesmo, afinal o colchão dela é bem mais macio que a cama que ficava no meu quarto.
__ Obrigada- respondi ao perceber que ela não ia me perguntar diretamente aquilo que já estava ficando óbvio para todos.
 Eu e Clay não estamos nada bem.
 Carla apertou os olhos novamente, como era do seu feitio fazer quando queria examinar alguma situação e em seguida sorriu:
__ Não por isso. Será um prazer  ajudar com as mamadas noturnas. Depois, minha missão é sair daqui com esse fofucho mamando com gosto da forma mais natural possível ! Sem essa de mamadeira!
__ Quem te falou sobre isso? Foi Cleo?
__ Não. Dessa vez foi sua mãe, a dinda Margarida, quem me falou da dificuldade. Ela percebeu que a situação quando te acompanhou na maternidade e me contou quando liguei para ela porque achei que ela estivesse aqui, ajudando vocês nesses primeiros tempos...
__ Pois é... Mas não está. 
__ Nem ela, nem o Clayton, pelo visto.

Dei de ombros.

__ Por falar nele, Cleise, eu gostei de ver o trabalho que você fez ao reativar o Blog. Vi que até teve muitos comentários na postagem do Clay sobre o Barão negro. Não conhecia aquela história.

Carla é  assim, "Morde e assopra".É o jeito dela, já estou acostumada,mas não dei o braço a torcer.

__ Nem eu, acredita? E Olha que o Palácio Amarelo fica aqui mesmo no Rio ,na cidade de Petrópolis, achei a matéria em si bem interessante.
__ Mas...
__ Mas eu não sei se tem algo a mais em ver o Clay fazer uma matéria sobre um herói mineiro. A família de Clay é mineira, entende o que quero dizer?
__ Achou que foi uma forma dele procurar pelo conhecido para se sentir seguro?
__ Não sei, Carla, a psicóloga aqui é você!
Ela me devolveu meu pacotinho para meus braços.
__ Acho que ele precisa trocar a fralda, mamãe! Vamos combinar assim: você me ensina a trocar fralda que eu te ajudo a usar essa bombinha de ordenhar vaca!

Eu  devolvi Felipe para o berço.

__ Pegue o trocador portátil para mim dentro da bolsa dele.
__ Trocador portátil? 
Sorri. Um mês atrás eu mesma nem imaginava que isso existisse...
__  É isso aqui. Eu sempre deixo na bolsa para ficar mais fácil , embora eu só tenha saído nesse primeiro mês para ele tomar a vacina BCG...
__BCG? Já está usando o dialeto materno?
__ Não é um dialeto- ri antes de comentar- é o nome da vacina contra a tuberculose...Bom aprender, vai que qualquer dia.é a sua vez de entrar nos domínios maternos...Até onde eu sei você bem tem se esforçado....
Ela desconversou e não deu o braço a torcer.
__ Ah!.... Então já entendi o motivo dessa tristeza!É falta de sol! Carioca não combina com falta de sol. Vamos sair e depois....disse, enfatizando a palavra depois -, quando voltarmos do passeio aí teremos tempo para conversar.
__ Eu ainda não posso sair com Felipe, ele ainda não tomou todas as vacinas e...
__ Não! Não pode  desgrudar dele nem um minutinho? Está querendo virar a mãe do ano por acaso? Vamos aqui em frente tomar um suco de laranja, já que você não pode beber e daqui a meia hora no máximo, estremos de volta. Esse bezerrinho vai conseguir ficar longe de você por meia hora,, Cleise, relaxa! A Cleo fica com ele.
__ Mas...
__ Sem mais, Cleise!-, Cleo entrou no quarto e falou: 
__ Tanto estresse pode estar prejudicando tudo, até a descida do leite..
__ Eu não acho que isso possa ajudar e depois ele é muito novinho, como vou voltar da rua para pegar ele...
__ Você não pirou assim quando eu o peguei no colo, Cleise, não está sendo coerente, sabia?
__ Pode ser, mas na hora eu nem pensei que você estava chegando da rua e agora...Não deveria ter deixado pegá-lo no colo, assim como não deverei sair de casa só para trazer germes para ele.

Carla suspirou. No fundo eu sabia que tudo era um exagero, uma piração mesmo, mas eu não conseguia evitar.
__ Cleise, eu mesma já levei o Felipe na rua, esqueceu?
__ Meia hora? perguntei, vencida.
__ Meia hora! E na volta você toma um banho antes de pegá-lo no colo.
__ Certo.
__ E o Clay?
__ Estamos conversando há um tempo já , se ele ainda não se deu conta da minha presença, não é agora que vai se importar.
__ Concordo.
__  Clay não é sua responsabilidade. Sua responsabilidade é Felipe. Depois creio que eu possa ajudar com isso...
__ Talvez. 
__ Toma Cleo, para vestir no Felipe depois do banho- entregou o outro pacotinho que trazia. Cleo perguntou se poderia abrir e eu assenti com a cabeça:
__ Um body azul escrito Boy? 
__ Pois é...A vendedora , mal eu entrara na loja, já foi perguntando se o presente era para menino ou para menina. Eu bem que tentei trazer uma cor neutra, tipo verde ou amarelo,achei que você iria preferir assim. Mas olha, pensando bem... Cor não tem sexo, não é? Então menino também pode vestir azul...É só uma cor, como qualquer outra... Se meninos podem vestir rosa e está tudo bem, então também podem vestir azul e está tudo bem também. Por isso eu aceitei a opinião da vendedora. Bater o pé para agir diferente, na verdade, seria concordar que cor  tem sexo e que algumas cores seriam proibidas! O que estava longe da verdade...Então...Eu até falei das cores para ela- e ela surpresa, disse que nunca ouvira falar sobre isso, mas aceitei trazer o Body que ela sugeriu porque gostei dele, e não pela cor em si.
__ Só você, Carla...mas, faz sentido sim!- Concordei.

__ Pois é isso mesmo, Dinda*! Cleo falou sorrindo-, vou lavar a peça e secar na secadora de roupas, antes de dar um banho bem gostoso no pequeno enquanto a mamãe relaxa por meia hora-, disse piscando o olho- ou até um pouquinho mais. A mamãe merece!
__ Vamos Cleise, vamos tirar esse mofo de você! Só daqui a três horas esse bezerrinho vai acordar mesmo! Temos tempo!  E vamos comprar uns sutiãs que não sejam cor de burro quando foge. Estamos do lado do Shopping Iguatemi, tem que ter algo decente para uma mamãe desse século por lá!.-Carla me falou às gargalhadas enquanto me empurrava em direção à porta.

   Não pude evitar de espichar o olho em direção ao ateliê enquanto deixava o apartamento, mas a maçaneta da porta do antigo quarto da Carla, hoje ocupado por Clay, nem se mexeu. Suspirei. 
   Eu realmente precisava de um tempo e ao menos agora com a Carla de volta, tudo voltará a ficar bem.
  Vai sim...
  "Tudo  bem quando termina bem"- repeti para mim mesma-, e a minha história ainda terá um final feliz!

                                                                Cleise

* Dinda- Forma carinhosa de se referir à madrinha de batismo, na religião Católica.

Nota da autora: 
Cleise está as voltas com os primeiros desafios da amamentação. Clay, por sua vez, está com ciúmes do filho e isso está refletindo na vida do casal. 
Mas com a chegada de Carla, a poucos dias do batizado de Felipe, tudo promete mudar...e mudar para melhor.
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